Porto Alegre reúne todas as condições de ser a primeira cidade do país a contar com a internet móvel de quinta geração (5G), após a liberação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A constatação é do presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, entidade que representa as operadoras de telefonia, Marcos Ferrari, e se sustenta na agilidade da capital gaúcha em licenciar as novas instalações de antenas: enquanto a média nacional chega a seis meses, por aqui, o processo leva menos de um dia.
— Porto Alegre é a capital que oferece as melhores condições de instalação de maneira mais rápida. É um exemplo de cidade que soube preparar o terreno para valorizar a cobertura ampla e irrestrita a sua população às redes de telecomunicações, o que inclui o 5G daqui para frente — afirma Ferrari.
No início do mês, a Anatel aprovou a extensão do prazo original (31 de julho) por 60 dias. Assim, as operadoras devem concluir a implementação das redes até 29 de agosto para ativarem em definitivo o sinal em 28 de setembro.
O motivo da prorrogação é a necessidade de limpeza na faixa de 3,5 Ghz para evitar interferências no tráfego do sinal de 5G com os de antenas parabólicas para TV, que utilizam o mesmo espaço e serão realocadas para a faixa KU. Ferrari explica que existe a possibilidade de antecipação dos prazos, mas isso depende de cada caso.
— Se porventura a liberação se der em todas as capitais de uma só vez, Porto Alegre é a que tem a melhor infraestrutura para ser a primeira capital a ativar o sinal — acrescenta o presidente-executivo da Conexis.
Conforme o edital que regra o 5G no país, será preciso oferecer uma antena para cada 100 mil habitantes até setembro de 2022. A proporção cai para uma antena para cada 10 mil habitantes em 2025. Ou seja, existe uma escalada com a qual a intensidade do novo sinal irá aumentar ao longo do tempo.
A entidade estima que será necessário ampliar em pelo menos cinco vezes a quantidade de antenas hoje disponíveis no país: 98,8 mil em 5.484 municípios. Com 6.194 torres, o Rio Grande do Sul responde por 6,2% dos equipamentos nacionais. Porto Alegre conta com 1.072 e representa 17,45% da infraestrutura existente no Estado e 1% no país.
Diferencial da capital gaúcha
Das 27 capitais, apenas 12 possuem leis adaptadas à Lei das Antenas, que é a considerada a mais adequada para o 5G. Até o final de 2021, eram apenas sete, ou seja, menos de 26% do total necessário.
Enquanto nas demais capitais a média para a liberação de novas instalações é de seis meses, Porto Alegre foi a primeira cidade a oferecer a Licença na Hora para as Estações Transmissoras de Radiocomunicação (ETRs). A solicitação, conforme a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), é feita pelo Portal de Licenciamento, e um sistema automatizado analisa a documentação e expede a autorização.
Antes, apesar da entrada e saída do pedido serem digitais, havia análise humana. A desburocratização do processo começou em 2018, com a Lei das Antenas, que permitiu a adoção do modelo de autolicenciamento, com a declaração do responsável técnico.
Assim, o prazo de tramitação da licença na Capital caiu de dois anos para um dia, o que permitiu acabar com a demanda represada e ampliar a infraestrutura. Desde 2019, foram emitidas 272 licenças (25% do total de antenas). Entretanto, não é possível distinguir o que é específico para o 5G.
Isso acontece, conforme Eduardo Tude, presidente da consultoria de telecomunicações Teleco, porque uma mesma torre (ou os chamados sites) pode estar equipada com todas as tecnologias vigentes (3G, 4G ou 5G). Segundo ele, esses equipamentos já passam por atualização para suportar o 5G.
— Há necessidade de ampliar os sites, mas não para dar a largada na operação. Inicialmente, o que as operadoras farão é colocar o 5G nos atuais. Com o tempo, daqui a dois anos, devem acelerar o processo — comenta.
Mais demanda para os condomínios
Em razão da nova tecnologia, há uma movimentação em curso no mercado de locação de espaços para antenas de celulares. Eduardo Tude, presidente da Teleco, explica que a decisão sobre o local de instalação não é da operadora, pois existem modelos científicos que determinam qual o melhor posicionamento para alcançar a melhor cobertura.
Quando o prédio é público, o contrato é feito com o órgão competente. Se é privado, abre-se negociação com o condomínio. Rosane Diaz, gerente de relacionamento do setor na Auxiliadora Predial, confirma a tendência.
Dos 2,1 mil prédios sob gestão da empresa, 45 possuem contratos com operadoras de telefonia. Segundo ela, recentemente, empresas terceirizadas passaram a apresentar ofertas de renegociação que envolvem reduzir valores e ampliar os prazos.
Em um dos casos, conta Rosane, a proposta previa o pagamento imediato do aluguel relativo a cinco anos, mas sobre o valor mensal de R$ 5 mil, e não de R$ 10 mil, como previa o contrato. Ou seja, R$ 300 mil em dinheiro na hora, mas com 50% de desconto sobre o valor original, que seria de R$ 600 mil.
— O condomínio não aceitou, mas, naqueles que não estão em situação financeira positiva ou têm saldos devedores, poderia ser interessante. Para instalar uma antena, é necessária a aprovação em assembleia porque se está locando um espaço comum para gerar receitas — exemplifica.
Rosane afirma que, atualmente, o valor médio dessas locações é de R$ 8 mil mensais. Há contratos de R$ 17 mil, outros de R$ 2 mil, e isso depende, diz ela, do tipo de equipamento e das empresas:
— Trará mais oferta para os condomínios, haverá mais demanda por essas áreas e pode ser algo positivo para os condomínios.
Sobre o tema, o presidente-executivo da Conexis Brasil, Marcos Ferrari, especula que o fato esteja vinculado com o 5G, que tem prazo de concessão estipulado em 20 anos pelo edital. Nesse caso, comenta, o ideal é que as locações vigorem durante toda a autorização.
— Quanto mais longo o contrato, melhor. É mais seguro para as operadoras, porque as mudanças de síndicos, moradores e gestoras podem ensejar revisão contratual e, com isso, condições não previstas. Para que se tenha certeza dos valores a serem pagos e dar uma satisfação aos acionistas, o melhor é casar os contratos de locação com os prazos do edital — analisa.
O 5G no Brasil e em Porto Alegre
- O 5G é a evolução da atual rede de celulares de quarta geração. Trata-se de uma rede mais potente e veloz que, além de ser “inteligente”, causa menos impacto ao meio ambiente.
- Das 27 capitais, apenas 12 aprovaram a Lei das Antenas.
- Em todo o Brasil, menos de 2% dos municípios tiveram avanços na Lei das Telecomunicações.
- Essas cidades terão 60 dias a partir da ligação do 5G para se manifestarem sobre o tema.
- Com 1.072 antenas, Porto Alegre responde por 17,45% dos equipamentos do Estado e 1% do país.
- Pioneira no autolicenciamento, a capital gaúcha reduziu a espera de dois anos para um dia na liberação de novos equipamentos.
- Nas demais capitais, a demora por um licenciamento chega a seis meses, em média.
O que dizem as operadoras
Claro
“A Claro é a primeira operadora a oferecer acesso à tecnologia 5G no Brasil. Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, desde 2020, a operadora oferece acesso às primeiras experiências 5G utilizando as frequências disponíveis, em mais de 25 bairros da capital gaúcha. Em dezembro de 2021, a empresa lançou a rede 5G em São Paulo e em Brasília na frequência de 2,3GHz, uma das leiloadas pela Anatel. Importante reforçar que para o uso da faixa de 3,5GHz é necessário aguardar a autorização dos órgãos reguladores responsáveis. O 5G, utilizando as frequências adquiridas no leilão, como é o caso da 3,5Ghz, trará ainda mais velocidade, melhor experiência e as baixas latências.”
TIM
“A TIM é pioneira nos testes para implementação de 5G no Brasil, com iniciativas em diferentes segmentos desde 2019, incluindo parcerias com instituições de ensino, criação de laboratórios e realização de projetos-piloto pelo país. Atualmente, para que os clientes já tenham uma experiência diferenciada, a TIM oferece o 5G DSS em 15 cidades brasileiras. Essa experiência diferenciada evoluirá com a chegada do 5G SA, na frequência 3,5 GHz, que depende de cronograma estabelecido pela Anatel. A faixa de 3,5 GHz, adquirida pela TIM, será essencial para proporcionar alta velocidade e baixíssima latência para os usuários e, principalmente, revolucionar a adoção de soluções da Internet das Coisas (IoT).”
Vivo
“A Vivo está pronta para cumprir com o que está no edital e usando toda a nossa experiência e liderança de mercado para entregar soluções para as pessoas e as empresas, com todo o potencial que só o 5G permitirá. A empresa tem um dos maiores backbones (responsável pelo envio e recebimento dos dados entre diferentes localidades) do País, que será um diferencial para implantação da tecnologia, pois as antenas do 5G devem estar conectadas por uma rede de transmissão de alta capacidade e qualidade que funcionará como um pulmão para a nova rede móvel. Além disso, a Vivo mantém seu nível de investimento no país na casa dos R$ 8 bilhões por ano, nos últimos anos.”