Com saldo de 8,9 mil vagas criadas em 12 meses, até março deste ano, a indústria puxa as contratações no Rio Grande do Sul. Ao contrário do que ocorre com a agricultura e a pecuária, que atuam em igual período com retração de 2,8 mil postos de trabalho no Estado, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o chamado setor secundário teria potencial para absorver um contingente maior de gaúchos.
É o que aponta o diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-RS), Carlos Trein, ao identificar a falta de qualificação como um dos problemas do atual mercado de trabalho. Segundo ele, o segmento, que enfrentou a sua maior recessão na história entre 2018 (ainda antes da pandemia) e 2020 (no auge das medidas restritivas contra a covid-19), voltou a contratar com força, mas esbarra na falta de mão de obra com formação adequada.
A má notícia é que o cenário, revela Trein, pode ser agravado. Isso porque a denominada indústria 4.0 (automação das fábricas) demandará mudanças no perfil das atividades. De acordo com o relatório Future of Jobs (futuro dos empregos), do Fórum Econômico Mundial, 75 milhões de vagas, hoje manuais, deixarão de ser preenchidas por humanos. A boa nova é que outros 133 milhões serão criadas (saldo de 58 milhões), porém, exigirão mais qualificação e, outra vez, o país parece não estar preparado para o desafio, afirma Trein.
Nesse aspecto, o diretor de Educação da Federação das Entidades Empresariais do RS (Federasul), Fernando de Paula, apresenta um balanço dos efeitos da pandemia para as escolas profissionalizantes gaúchas. De 9 mil estabelecimentos privados deste tipo, em 2019, restaram somente 4 mil ativos. A redução de 55%, em dois anos, indica a falta de incentivos e convênios capazes de amenizar a situação, comenta.
O economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS, Ely José Mattos, sustenta a premissa. Afirma que o Brasil é “claramente” um país com qualificação baixa. E, acrescenta: isso significa que os trabalhadores brasileiros são pouco produtivos e, por mais que se esforcem, por 8h ou 9h diárias, o valor que geram na economia tende a ser menor do que em países onde a educação é mais valorizada.
Caminhos para uma solução
Mattos afirma que as soluções passam por duas agendas, uma de “curtíssimo prazo”, e outra de “longa duração”. A primeira, e também a mais restrita, argumenta, é formada por medidas de incentivo direto, como auxílios, subsídios para empresas e financiamentos facilitados em determinados setores mais propensos às contratações.
Só que, para garantir empregos, revela o economista, é preciso ampliar o horizonte. Nesse caso, não há alternativa que não passe pelo Ensino Básico. Segundo ele, o desequilíbrio educacional traz na bagagem a baixa mobilidade social. E aponta que algumas melhorias, obtidas na comparação com as décadas de 1980 e 1990, foram alcançadas, mas entraram em declive. Nesse aspecto, complementa Mattos, um dos trunfos seria o Programa Universidade para Todos (Prouni), criado pelo governo Federal em 2004 para conceder bolsas de estudo em graduação e cursos sequenciais.
— Quando filhos de pessoas que não têm ensino superior obtêm a graduação, ocorre a mobilidade social, porque essas pessoas trocam de patamar. São medidas de longo prazo. E, é preciso entender, que precisamos corrigir algo que levará, no mínimo uma geração — considera.
No que tange aos Estados e Municípios, comenta o professor da PUCRS, sobram as ações mais pontuais. Em Porto Alegre, por exemplo, que possui um Sistema S (conjunto de organizações das entidades corporativas voltadas para o treinamento profissional) fortalecido, é possível ampliar capacitações, que tendem a funcionar, segundo ele, porque são localizadas, de fácil absorção, porém com alcance é limitado:
— Não há como revolucionar a partir do Estado, ainda que este tenha a responsabilidade sobre a educação de base. Mas sem a atribuição de fazer política monetária e cambial, sobra somente um pouco de política fiscal e um orçamento limitadíssimo para implementar medidas duradouras. Para voltar a um patamar menos cruel, de 6 milhões de desempregados, como em 2012, não tem jeito, deve ser um movimento nacional – pontua.