O maior investimento da história da gaúcha Tramontina saiu do papel. Foi consolidado no recém-criado distrito industrial de Moreno, a 30 quilômetros de Recife, capital de Pernambuco. Com geração de 350 empregos diretos na fase um, a unidade, inaugurada nessa terça-feira (17), é fruto de um aporte avaliado em R$ 400 milhões, em andamento desde 2018, e tem capacidade para produzir diariamente até 46 mil peças de porcelana.
Trata-se de um novo nicho de mercado a ser explorado, mas também um sonho antigo da fabricante, reconhecida por suas linhas de aço inox e ferramentas. A ideia por trás da Tramontina Porcelana surgiu com pesquisas de mercado há oito anos, quando a marca reuniu esforços para estampar o próprio nome em conjuntos conhecidos como louça branca, de material nobre, terceirizados.
De acordo com diretor da empresa, Rui Baldasso, o segmento apresenta poucos fabricantes no país e possui demanda não absorvida pela atual oferta existente. A aposta no setor, entretanto, assim como a relação da Tramontina com o Nordeste do país, remete à década de 1960.
Foi nessa época, na Bahia, em Aratu, que nasceu a primeira planta da marca fora do Rio Grande do Sul. A transformação estratégica da unidade em um centro de distribuição abriria então o caminho para outros movimentos semelhantes.
Hoje, a Tramontina, fundada como uma pequena ferraria há 111 anos em Carlos Barbosa, na serra gaúcha, vende seus produtos para 120 países e emprega mais de 10 mil pessoas em nove unidades fabris no Rio Grande do Sul e em outros dois Estados (Pernambuco e Pará). Do novo empreendimento, que, após a conclusão do chamado arco metropolitano do Recife (projeto de mobilidade viária), ficará somente 14 quilômetros distante do porto de Suape, em Pernambuco, sairão 200 novos itens da linha de porcelanato.
São pratos, xícaras, pires, canecas, saladeiras e travessas, que se juntam ao portfólio de mais de 22 mil itens da centenária indústria gaúcha. E, além do atrativo logístico, que deixa a produção a poucos dias de distância dos mercados da Europa e da África, está um programa do governo daquele Estado, que reduz em até 85% a incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) utilizado para reinvestimento na região.
Na prática, a alíquota pode chegar a 3,5% até 2027, com previsão de renovação até 2033. Algo inconcebível, por exemplo, para os padrões gaúchos, em que o processo de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) impede a concessão de incentivos fiscais dessa natureza.
Negociação começou em 2012
A oferta inicial, comenta o diretor do Conselho de Administração da empresa, Clóvis Tramontina, data de 2012 e foi feita pelo então governador de Pernambuco, Eduardo Campos (falecido em acidente aéreo em 2014, quando pretendia concorrer à presidência da República). A proposta ainda incluía o terreno de 90 hectares e financiamentos facilitados junto ao Banco Nacional do Nordeste e à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
— Na cutelaria, já importávamos porcelana e fazíamos parcerias. Sempre foi a nossa intenção explorar o segmento. Aquele sonho hoje se torna realidade em um período em que empresas fecham, pois a sociedade está empobrecida pelas crises (econômica, política e sanitária), e, a partir de hoje, inclui Pernambuco e a Tramontina no mapa da fabricação de porcelana de mesa no Brasil, tradicionalmente concentrado nas regiões Sul e Sudeste do país — diz.
O espaço abriga um complexo recheado de automação, inteligência artificial e robotização. Instalado junto à planta batizada de Delta, inaugurada em 1988 pela Tramontina, no mesmo local, para a fabricação de plásticos injetados, conta com mais de 54 mil metros quadrados de área construída e mira em produtos premium para as refeições em casa, mas também para mesas de bares, hotéis e restaurantes.