A bolsa de valores brasileira, a B3, continua tentando engatar recuperação na abertura desta semana. Com nova alta nesta segunda-feira (16), o principal indicador da bolsa, o Ibovespa, acumula crescimento de 3,25% neste ano. Bom momento de empresas ligadas a commodities e menos temor em relação ao lockdown na China ajudam nesse processo de retomada. A sequência de variações positivas dos últimos dias ocorre após quedas em abril, que respingaram no início de maio.
O Ibovespa fechou em 108.232 pontos nesta segunda-feira, registrando alta de 1,22% em relação ao pregão da última sexta-feira (13). Essa é a quarta alta consecutiva do indicador. O avanço de 3,25% ocorre na comparação do patamar do último pregão com a pontuação do fim de dezembro do ano passado, 104.822.
Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, afirma que o aumento expressivo dos juros nos Estados Unidos e o lockdown na China em razão da covid-19 entre os fatores principais para a queda de 10% do Ibovespa em abril ante março. No entanto, Bianchi Filho destaca que o efeito da guerra na Ucrânia no comércio de matérias-primas e a inflação internacional beneficia a bolsa brasileira em maio. O enfraquecimento na atividade econômica na China segue no radar, mas em nível menor após acenos a flexibilizações nas restrições no país asiático.
— Aos poucos a bolsa está se recuperando, porque o Brasil, por incrível que pareça, tem um ambiente até favorável com os problemas causados pelo conflito na Ucrânia e com a inflação, que acaba puxando o valor de commodities para cima. Isso favorece um país como o Brasil que é exportador desses produtos.
O desempenho das ações na B3 corrobora a análise do executivo. Papéis ligados a companhias que trabalham com commodities, como a Petrobras, SLC Agrícola e PetroRio, estão entre os que carregam as maiores variações positivas neste ano. Por outro lado, as ações de empresas da chamada área “tech” estão entre as piores quedas.
O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, diz que o desempenho no ramo das empresas exportadoras de commodities ocorre no embalo da alta de preços de alguns produtos, como minério de ferro e combustíveis.
Em relação ao desempenho das companhias do segmento de tecnologia, Agostini afirma que as retrações ocorreram na esteira de um movimento internacional. Esse setor ainda tenta recompor os prejuízos causados pela crise sanitária, segundo o especialista:
— Com relação aos papéis de tecnologia, vimos várias empresas decepcionando um pouco em termos de rentabilidade. Tem a Uber no cenário internacional entre outras. A pandemia acabou afetando muito desses papéis justamente porque são relacionados ao setor de serviços.
O sócio-diretor da Fundamenta Investimentos destaca que empresas com atuação na área do varejo também estão no pelotão com os maiores recuos em preços de ação no acumulado de 2022. Os efeitos da inflação persistente no orçamento das famílias ajuda a explicar esse cenário, segundo Bianchi Filho. Esse fator obriga o consumidor a manter o foco nos gastos essenciais, reduzindo a compra de outros itens no varejo.
— É um misto de ações ligadas ao segmento de tecnologia e de papéis que tinham uma expectativa de crescimento embutida em um preço muito elevado. Então, acho que o mercado esse ano está dando uma regulada nessas expectativas.
Bianchi Filho estima que a bolsa brasileira poderá fechar 2022 com resultado positivo, caso o cenário atual siga até o final do ano.
— A gente tem um ambiente que é construtivo. Não é atoa que a nossa bolsa segue, apesar do abril negativo, em patamar positivo na abertura da segunda quinzena de maio.