Depois de lançar o Plano Nacional de Fertilizantes para estimular a produção nacional, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, viajou ao Canadá na tentativa de buscar novos fornecedores do insumo ao Brasil. O movimento ocorre em meio à ameaça de escassez de fertilizantes devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, já que o Brasil é dependente da produção que vem de fora.
O principal nutriente utilizado pelos produtores brasileiros é o potássio, e o Canadá é o maior produtor mundial do insumo. Rússia e Belarus correspondem por 40% do fornecimento de potássicos ao Brasil, em torno de 20% cada, e o Canadá, em torno de 30%. A estratégia da comitiva foi conversar com empresas desse país sobre a disposição em facilitar as vendas ao Brasil.
Na agenda, além de um encontro com o vice-ministro da Agricultura do Canadá, Paul Samson, estavam previstas reuniões com os presidentes das empresas Gensource, Nutrien, Canpotex e Fertilizer Canada. A comitiva desembarca no Brasil nesta terça-feira (15).
— É uma conversa muito importante porque as empresas canadenses possuem capacidade operacional para produzir e exportar mais. Mas temos que entender que o desfalque, se realmente acontecer, é de um volume muito grande que só o Canadá não vai conseguir suprir sozinho. Mas já traz um alívio — avalia a analista da Safras & Mercado e especialista em fertilizantes Maísa Romanello.
O primeiro compromisso em Ottawa foi com representantes da companhia de fertilizantes Potash Brazil. A empresa tem planos de desenvolver, na Amazônia, a maior mina de potássio da América Latina.
"Podemos e devemos reforçar nossos laços e fortalecer parcerias de longo prazo. Isso significa, na prática, alimentos em quantidade e qualidade a preços acessíveis na mesa de todos", escreveu a ministra em postagem nas redes sociais, logo após o encontro.
No cenário atual, o Brasil é o quarto maior consumidor global de fertilizantes e o maior importador mundial do insumo. Importamos cerca de 85% de todo o fertilizante usado na produção agrícola nacional. No caso do potássio, o percentual importado é de cerca de 95%.
— Nossa dependência do mercado internacional é enorme, e isso nos faz reféns dos acontecimentos mundiais. Somos prejudicados principalmente na precificação do produto que compramos, porque depende de diversos fatores econômicos e geopolíticos que fogem do nosso alcance — diz Maísa.
Segundo a analista, a dependência vem aumentando ao longo dos últimos anos, junto com a expansão da agricultura brasileira e do consequente uso maior de insumos no campo, além da redução da produção de fertilizantes no território nacional.
Mesmo com o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes, a conversa com outros fornecedores mundiais é importante para resolver a escassez do insumo a curto e a médio prazo, já que o incentivo à produção nacional é um projeto de longo prazo. Além do Canadá, a ministra também foi ao Irã no mês passado para garantir volumes de nitrogenados.
Mas, assim como o Brasil, outros mercados irão competir pelos volumes canadenses, o que tende a pressionar fortemente os preços dos insumos. No ano passado, antes da estourar a guerra entre Rússia e Ucrânia, levantamento da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) já indicava participação importante dos insumos na maior alta dos custos de produção desde o início da série histórica, em 2010, de 51,39%.
— É bom lembrar que somos os principais produtores de alimentos para o mundo, então os países que produzem fertilizantes não deixarão de fornecer para nós, uma vez que precisamos do insumo para fornecer alimentos para eles. Existe essa troca. O problema será o preço dos insumos por conta da menor oferta — completa Maísa.