A preocupação com os impactos da elevação dos custos de produção tem sido uma constante nas avaliações entidades do setor agropecuário. Não foi diferente nos balanços da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil(CNA) e da Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro-RS) realizados ontem. E a maior apreensão recai sobre a safra a ser plantada em 2022. Porque é lá que o agricultor e o pecuarista sentirão em cheio a alta expressiva de insumos como os fertilizantes, com encarecimento que chega a 177% em 12 meses e produtos químicos, com o glifosato, por exemplo, registrando aumento de 372% em igual período . Neste ano, ainda foi possível reduzir um pouco o efeito dessa valorização com a organização das compras e rentabilidade da produção.
— Certamente teremos redução de margens (em 2022). Neste ano, os produtores conseguiram comprar antecipadamente. A relação de troca na soja era de oito sacas por tonelada de fertilizante. No momento, a expectativa é de 12 sacas, isso achata margem —explicou Bruno Lucchi, diretor-técnico da CNA.
Setores que têm exportação, acrescentou, conseguem dar um certo equilíbrio, porque geram receitas em dólar. Mas aqueles que não trabalham com o mercado externo de forma regular, como o do leite, têm sofrido mais, porque as despesas são na moeda americana, mas o faturamento, não. E a perda do poder aquisitivo do brasileiro gera impacto sobre consumo.
— Neste momento, as exportações são importantes para equilibrar — reforçou.
As exportações não reduzem a oferta. Elas estimulam estabilidade e, com isso, a produção.
LÍGIA DUTRA
Diretora de Relações Internacionais da CNA
A entidade projeta para 2022 um crescimento econômico no Brasil de 0,5%, inferior aos 4,3% no mundo. Esse cenário mantém no horizonte a perspectiva de um consumo doméstico ainda enfraquecido, outro componente importante a ser considerado nas contas do setor produtivo.
Outro alerta vem dos problemas climáticos que se desenham na safra de verão no sul do país. A produção de milho gaúcha contabiliza perdas importantes, o que traz uma sombra adicional de preocupação para as indústrias de carne, em especial de suínos e aves.
— O clima é uma incógnita, mas que pode impactar sim. Mas mesmo com problema, será melhor do que neste ano — completou o diretor técnico da CNA, em referência às projeções de uma safra de milho 34,1% maior no país.
Na matriz de riscos da entidade, outro item que aparece na cor vermelha pela alta probabilidade de acontecer e pelo elevado impacto é o de novas variantes de covid-19.