O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 0,1% no terceiro trimestre de 2021 na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta quinta-feira (2). Com isso, a economia do país entrou em recessão técnica. Isso ocorre após dois trimestres com resultado negativo no indicador.
O resultado negativo ocorre mesmo com a alta de 1,1% nos serviços, que respondem por mais de 70% do PIB nacional. O índice foi influenciado para baixo principalmente por conta da queda de 8% na agropecuária e também pelo recuo de 9,8% nas exportações de bens e serviços. Já a indústria ficou estável (0%).
O PIB está no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia, e ainda está 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014. Na comparação com o terceiro trimestre de 2020, o PIB cresceu 4,0%.
O PIB, que é soma dos bens e serviços produzidos no país, chegou a R$ 2,2 trilhões em valores correntes no terceiro trimestre deste ano.
O recuo na agropecuária ocorre diante do fim da safra de soja, que também impactou as exportações, segundo o IBGE. A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, afirma que a colheita da soja pesa no resultado por ser muito mais concentrada nos dois primeiros trimestres:
— Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos — afirma Rebeca.
No âmbito dos serviços, outras atividades (4,4%), que reúnem diversos serviços prestados às famílias, teve destaque. A pesquisadora do IBGE destaca que o combate à pandemia no país tem impacto nesse cenário:
— Com o avanço da vacinação contra covid-19 e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia, as famílias passaram a consumir menos bens e mais serviços — pontua.
Pelo lado da demanda, a formação bruta de capital fixo caiu 0,1%. Esse indicador mede o quanto as empresas investiram em bens para aplicar na produção, apontando a mobilização dos setores para investir ou não. Já o consumo das famílias cresceu 0,9%. O consumo do governo subiu 0,8%.
No setor externo, houve quedas nas exportações (-9,8%) e importações (-8,3%) de bens e serviços.
O IBGE também revisou o desempenho do PIB em 2020. A taxa de queda de 4,1%, informada anteriormente, foi corrigida para retração de 3,9%.
O professor Fernando Ferrari Filho, do curso de pós-graduação de Economia da UFRGS, afirma que o tombo menor do PIB no terceiro trimestre — no período anterior caiu 0,4% após revisão— ocorre diante da maior liberação das atividades em meio à pandemia:
— Essa queda do terceiro trimestre foi menor do que a do segundo trimestre. Isso faz sentido, porque, à medida que a economia vai sendo liberada em termos de distanciamento social, você vai movimentando, principalmente o setor de serviços.
A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia divulgou nota técnica argumentando que "mais importante que o número" é a "qualidade" do crescimento. A pasta também alega que os resultados poderão ser revisados para cima no futuro.
“É fundamental distinguir o que é política econômica de fatores climáticos adversos e pontuais da natureza, deve-se ressaltar que se observa a maior crise hídrica em 90 anos de história", cita trecho do comunicado da SPE.
A nota também destaca que a taxa de poupança chegou a 18,6% do PIB no terceiro trimestre, retornando ao mesmo nível do terceiro trimestre de 2014. Já a taxa de investimento alcançou 19,4% do PIB, mesmo patamar do começo da década passada.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, minimizou o novo tombo do PIB e afirmou que o país vai crescer no próximo ano.
— Dizer que o Brasil não vai crescer é um equívoco. O Brasil vai crescer um pouco menos porque vamos combater a inflação — afirmou o ministro, em palestra no evento de 10 anos de concessões aeroportuárias no Brasil.