Na tentativa de evitar racionamento e possíveis apagões no país, que viriam acompanhados de aumento ainda maior no valor da conta de luz, o governo federal anunciou medidas para tentar reduzir o consumo de energia residencial. Especialistas da área afirmam que as medidas são bem-vindas, em razão da gravidade do momento, mas que precisam ser melhor detalhadas ainda pelo Executivo.
Previsto para iniciar em 1º de setembro, o governo federal anunciou um programa de redução voluntária voltado para consumidores residenciais. A bonificação faz parte de uma série de ações para tentar evitar apagões em horários de pico, quando há mais demanda por energia. Na segunda-feira (23), o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou as regras para a redução voluntária do consumo voltado para grandes consumidores, como as indústrias. Em contrapartida, as empresas vão receber compensações financeiras.
A expectativa, segundo o ministério, é divulgar as regras das medidas no início da próxima semana.
Especialista em Planejamento Energético e pesquisador do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o engenheiro Renato Queiroz considera que há um "risco real" de racionamento e de apagões no país. Ele avalia que as medidas deveriam ter sido tomadas meses antes, quando já era possível observar que a situação iria se agravar, em razão da falta de chuva:
— É preciso poupar energia, mas já estamos em um momento de desespero. É como se o paciente estivesse para ser entubado. É uma situação gravíssima e preocupante, principalmente para outubro e novembro. Qualquer medida vem a ajudar, só que, até agora, não tivemos grandes detalhamentos sobre o que será feito. E já estamos vendo um racionamento acontecer, por meio do aumento do preço da conta.
Para que a mudança seja observada na prática, no bolso do consumidor, ainda é preciso que analisar como será feita a bonificação, sustenta o especialista:
— A pessoa que é pobre já não tem um consumo alto, não tem muito a economizar. O rico não está ligando para o que vai pagar. A classe média até pode economizar um pouco. São medidas que precisam ser feitas, mas precisam ser muito bem planejadas, esclarecidas.
Para a Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres, é "fundamental para o consumidor a previsão de mecanismos de transparência" por parte do governo em relação as medidas. Segundo o diretor-técnico da entidade, Fillipe Soares, ainda restam dúvidas sobre como se dará o tratamento aos consumidores:
— É importante reconhecer esforços, ver que as medidas estão sendo tomadas. Mas estamos acompanhando a situação e ainda há muitos fatores. A gente está importando energia da Argentina e do Uruguai. Está passando tempo e a gente vê um cenário que é muito preocupante para os próximos meses. Então é preciso observar como esses benefícios irão impactar no problema.
Segundo o diretor, desde outubro do ano passado a entidade já observava que as termelétricas estavam sendo bastante acionadas, o que já causava apreensão.