Segmento bastante afetado pela pandemia de coronavírus, o setor de alimentação fora de casa enfrenta o endividamento em meio à retomada no Rio Grande do Sul. Em abril, 71% dos bares e restaurantes no Estado fecharam o mês no vermelho, segundo dados coletados pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em 79 empreendimentos em diversas regiões.
A pesquisa também mostra que 69% dos estabelecimentos estão com pagamento em atraso. Encargos relacionados a Simples Nacional, impostos, aluguel e despesas como água, luz e gás estão entre as principais dívidas apontadas.
A presidente da Abrasel no Rio Grande do Sul, Maria Fernanda Tartoni, afirma que a situação enfrentada pelo setor é o saldo de quase 15 meses de crise sanitária. Segundo ela, os empreendimentos não conseguiram faturar em meio às restrições de mobilidade impostas pela pandemia, gerando dívidas para garantir a operação:
— O grande desafio hoje é recuperar a confiança das pessoas para que elas voltem a frequentar os bares e restaurantes e a gente volte a um patamar de faturamento pelo menos para o pagamento de contas. A gente ainda está em um período muito difícil.
Na comparação com março, a parcela de estabelecimentos no prejuízo em abril é menor (veja mais abaixo). O contingente de empresas com dificuldades para pagar o salário dos funcionários integralmente também caiu, de 77% para 37% no período, segundo a pesquisa.
A presidente da Abrasel no Estado afirma que essa redução ocorre na esteira das flexibilizações na abertura das atividades econômicas e da vacinação. Porém, ela destaca que, mesmo em patamares menores, os indicadores mostram o setor distante da retomada econômica com mais fôlego.
— A gente não tem como compensar esses 15 meses tão rapidamente. É preciso começar gradualmente a voltar para pagar a dívida — explica.
A presidente da Abrasel-RS afirma que apenas uma pequena fatia do setor conseguiu pagar as contas migrando para a telentrega e outras modalidades, como o pegue e leve. A dirigente cita o aumento da concorrência e a redução do poder aquisitivo dos consumidores como fatores que explicam esse movimento.
Um dos estabelecimentos que enfrenta o problema de endividamento é o restaurante Gambrinus, o mais antigo de Porto Alegre. O empresário João Melo afirma que ele e os sócios tiveram de contrair empréstimos para conseguir honrar contas relacionadas ao aluguel, ao consumo e aos impostos.
— A gente buscou empréstimos, investimentos pessoais também. Foi um período bem complexo e bem complicado, mas a gente fez de tudo para manter o negócio vivo e manter os empregos, porque temos uma equipe muito especializada, de muita qualidade — explica Melo.
O empresário destaca que o setor ensaia uma retomada com a abertura maior em razão das flexibilizações, mas que esse processo ainda é lento.
Busca por soluções
A presidente Abrasel-RS, Maria Fernanda Tartoni, afirma que a aceleração da vacinação no país é um dos principais instrumentos na busca por retomada do setor. A dirigente destaca que a imunização com mais fôlego vai criar ambiente com os consumidores mais confiantes em relação à circulação.
Maria Fernanda também cita o parcelamento de dívidas, a suspensão de cobrança de juros e do corte de serviços, como os de água e luz, e a continuidade das flexibilizações entre as alternativas para socorrer o setor.
Em relação ao Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), a presidente destaca que essa ferramenta é importante e impediu o fechamento de muitas empresas no ano passado. No entanto, ela estima que um novo acesso a esse crédito, que virou permanente, seria utilizado por parte dos empresários para pagar outros empréstimos.
O presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky, cita a necessidade de reformulação na estrutura do setor, com revisão em diversos pontos, como impostos, financiamentos e taxas de juros. Além disso, Chmelnitsky cita iniciativas por parte dos empreendedores.
— Se o nosso setor não passar pela reforma estrutural, pelo “restauranteiro” olhar seu balancete, a última linha e ser duro com isso, e criar situações para o mercado acreditar que ele está agindo direito, cumprindo os protocolos, vai ser muito difícil sair do buraco — pontua o presidente do Sindha.
Especialista do Sebrae-RS em alimentos e bebidas, Roger Klafke afirma que, além de avançar no acesso ao crédito e na vacinação, é necessário continuar seguindo os protocolos de segurança e destacar essa conduta, reforçando a confiança dos consumidores.
— Mostrar isso nas suas redes sociais. A comunicação com o consumidor, mostrando que a equipe está treinada e é qualificada, que o estabelecimento está cumprindo os protocolos. Mostrar isso com imagens o tempo inteiro. Estabelecer uma relação de confiança com os consumidores é importante — ensina Klafke.