Principal setor na geração de emprego com carteira assinada no Rio Grande do Sul neste ano, a indústria fechou o primeiro trimestre com pouco mais da metade das vagas abertas em solo gaúcho. De janeiro a março, o setor foi responsável por 38.708 dos 74.448 postos criados no Estado, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Colocando uma lupa sobre os dados da indústria no Caged é possível observar que esse desempenho nos três primeiros meses do ano foi puxado pela fabricação de produtos do fumo, de couro, máquinas e equipamentos, produtos de metal e de produtos alimentícios. Juntos, esses cinco segmentos são responsáveis por 66,58% de todas as vagas criadas na indústria no período.
Economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes de Nunes afirma que, após um ano marcado por redução na produção, o setor voltou a aquecer no fim de 2020 com o retorno das atividades, movimento que se manteve nos primeiros meses de 2021.
— Isso acaba, de fato, fazendo com que se tenha uma necessidade de retomar a atividade e retomar o emprego. Esse é um dos fatores, mas também tem outros. Tem uma questão que é muito sazonal, que é o setor de tabaco, que contrata muito no início do ano e dispensa ao longo do ano — explica Nunes.
O economista afirma que a indústria deve ter uma estabilização ou crescimento em ritmo menor na geração de emprego no restante do primeiro semestre. Para Nunes, a elevação no número de vagas será mais forte no setor de serviços nos próximos meses:
— No início do ano, o empresário estava bem mais otimista com relação ao aumento do número de empregados, e agora ele está projetando ainda um aumento, mas de intensidade menor. Vai ser de fato um ano bom na recuperação de emprego em relação ao ano passado, mas não nesse mesmo ritmo do primeiro trimestre.
O presidente eleito do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação de Santa Cruz do Sul e Região (Stifa), Gualter Baptista, afirma que a qualidade da safra de tabaco acabou acelerando o ritmo das contratações nas fábricas do setor, que historicamente se destacam nesse período do ano:
— As empresas fizeram uma antecipação das contratações sazonais para garantir a entrada do tabaco em processamento o mais breve possível.
Logo após a cadeia ligada ao fumo, o setor de preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados aparece com o maior saldo dentro da indústria de transformação. O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, afirma que o bom resultado do setor de fabricação de calçados, segmento com melhor desempenho, foi puxado pelos meses de janeiro e fevereiro, com o otimismo em relação ao funcionamento dos estabelecimentos comerciais com as flexibilizações para atividades comerciais.
De olho nas bandeiras
Com a volta das restrições mais severas no fim de fevereiro, com o Estado sob bandeira preta no enfrentamento à pandemia, o ramo sofreu um tombo, amargando recuo na geração de empregos. Ferreira destaca que abril deve repetir resultado negativo nas contratações, mas estima uma retomada a partir de maio, com a consolidação das flexibilizações no distanciamento e o socorro promovido por programas do governo.
— Com a medida provisória de apoio à manutenção do emprego, no mês de maio, nós acreditamos que o número de postos de trabalho possa ser neutralizado. O crescimento seria a partir dos meses de junho, julho, agosto e setembro. O estoque de emprego deve crescer em 2021 _ estima Ferreira.
A Invoice Calçados, com sede em Sapiranga, no Vale do Sinos, é uma das empresas que deve seguir utilizando o programa do governo que indeniza parte da remuneração de trabalhadores com redução de jornada e salário.
A gerente de marketing comercial da empresa, Samanta Melo, afirma que essa ferramenta é importante em um contexto onde a produção sofre com variações de ritmo. A soma desse auxílio com o cenário pós-vendas no Dia das Mães deve ter impacto positivo no volume da produção interna e, consequentemente, na geração e manutenção de emprego nos próximos meses, segundo a executiva.
— Fizemos uma redução do quadro funcional para passar esse período e agora, com o mercado aquecendo, as vendas acontecendo nos mercados interno e externo, é importante conseguir estar com a mão de obra alinhada para fazer essas novas produções — explica Samanta.
No setor de máquinas e equipamentos, os itens ligados à agropecuária são os principais responsáveis pelo bom desempenho do segmento. O presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier, afirma que os bons resultados da safra no Estado, a taxa cambial elevada e a baixa dos estoques mundiais ajudam a explicar esse movimento de alta:
— O nosso cliente final, o agricultor, está capitalizado e tentando melhorar seu padrão de máquina.