O Rio Grande do Sul registrou, no terceiro trimestre deste ano, novo recorde de taxa de desemprego. O total de pessoas trabalhando no Estado caiu de 5,14 milhões, no segundo trimestre, para 4,97 milhões, segundo dados da PNAD Contínua trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na manhã desta sexta-feira (27).
Com isso, a taxa de desocupação no RS subiu de 9,4%, no compilado de abril, maio e junho, para 10,3% no acumulado de julho, agosto e setembro. É o maior percentual registrado no Estado na série histórica do órgão, que começou em 2012. No terceiro trimestre de 2019, a taxa estava em 8,8%.
Mesmo com o crescimento seguido de novo recorde, a taxa de desocupação no Rio Grande do Sul é a quarta menor do país. Santa Catarina, Mato Grosso e Paraná são os únicos Estados com menor percentual de desocupados.
O contingente de pessoas desocupadas pulou de 535 mil para 574 mil na comparação dos dois trimestres. O montante de cidadãos fora da força de trabalho, ou seja, que não estão ocupados e nem desocupados, subiu de 4 milhões para 4,1 milhões.
Caminhando no mesmo sentido do Estado, o Brasil também registrou a maior taxa de desemprego na série histórica do IBGE, anotando 14,6% no terceiro trimestre. A população desocupada atingiu 14,092 milhões no período. Isso equivale a 1,3 milhão de pessoas a mais do que no segundo trimestre — quando esse número era de 12,8 milhões.
Efeitos da pandemia seguem atuando no mercado de trabalho
O coordenador da pesquisa do IBGE no RS, Walter Rodrigues, afirma que os efeitos da pandemia seguem atuando sobre o mercado de trabalho, pois alguns setores ainda não tiveram condições de voltar aos patamares do pré-pandemia. Rodrigues chama a atenção para o nível de ocupação, que leva em conta pessoas ocupadas na população com 14 anos ou mais, que caiu de 53,1% no trimestre anterior para 51,5% no último trimestre da pesquisa.
— Isso é preocupante, porque as pessoas que estão trabalhando na economia são geralmente aquelas pessoas que vão trazer um aporte maior de consumo, de renda — salienta o pesquisador.
Comparando o segundo trimestre com o terceiro, o Rio Grande do Sul anotou a segunda queda do nível de ocupação no país, ficando atrás apenas do Paraná.
O professor de Economia da Unisinos Guilherme Stein também avalia que os resultados da pesquisa são reflexos da dinâmica do mercado de trabalho neste ano, atingido em cheio pela pandemia. Stein destaca que os dados do terceiro trimestre reforçam o entendimento de que ainda não vivemos uma recuperação, mas também mostram que a redução da população ocupada foi menor, se comparado ao segundo trimestre, que sofreu o maior impacto da crise sanitária.
Ao colocar uma lupa sobre as atividades, os setores de Transporte, armazenagem e correio (-35 mil) e comércio (-30 mil) lideram na perda de ocupados no Estado, comparando com o trimestre anterior. Em relação ao mesmo período do ano passado, o comércio apresenta a maior queda, com 186 mil ocupados a menos.
— Você tem que levar recursos ou bens para as lojas e estabelecimentos. Na medida que elas estão fechadas, você observa que esse tipo de demanda vai tender a ser menor — explica Stein sobre o setor de transporte.
Crescimento de vagas no fim de ano
A economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, destaca que esse resultado negativo no comércio, principalmente na comparação de um ano para o outro, era esperado em razão do cenário atual, com a economia enfraquecida.
— Muitas empresas simplesmente fecharam as portas. Então, muitos empregos deixaram de existir e a gente não sabe quando eles existirão de novo. Outras empresas, que permaneceram funcionaram, reduziram os seus quadros — afirma.
Patrícia destaca que o quarto trimestre do ano tem o movimento sazonal de crescimento nas contratações, principalmente no comércio, em razão das festas de fim de ano. A economista estima elevação no volume de ocupação no período, mas pondera até que ponto esse fôlego vai durar:
— A pergunta é, quanto a economia vai ser capaz de segurar essas vagas que foram geradas para atender esse excesso de demanda que costuma ocorrer no final do ano. Isso vai depender muito, por exemplo, da própria dinâmica de decisões dos governos com relação a questão da manutenção das atividades abertas ou não — explica.
Olhando o mercado de trabalho como um todo, economista-chefe da Fecomércio-RS projeta que, à medida que a economia voltar a crescer, a taxa de desemprego vai aumentar, pois parte das pessoas fora da força de trabalho voltará a buscar recolocação no mercado de trabalho.