Mesmo endividada, a CEEE Distribuição (CEEE-D) tende a despertar o interesse de investidores. Essa é a avaliação de analistas que acompanham o setor de energia e modelos de privatização. Segundo eles, o potencial do mercado gaúcho e a busca por eficiência na iniciativa privada, em tese, podem fazer com que a companhia atraia um comprador e supere as dificuldades de caixa. Detalhes sobre o processo de venda da estatal serão conhecidos em dezembro, com a publicação do edital.
Na segunda-feira (16), o governo estadual informou que o leilão está previsto para fevereiro. Conforme o Palácio Piratini, a privatização busca impedir que a distribuidora entre em colapso, perdendo a concessão por descumprimento de metas traçadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que regula o setor.
A dívida é estimada em R$ 7 bilhões. A maior parte é de ICMS – R$ 4,4 bilhões até abril de 2021, quando o comprador deve assumir a companhia.
Para conseguir fazer a venda, o governo terá de abrir mão de R$ 2,8 bilhões referentes ao tributo. O novo acionista pagaria, de forma parcelada, o restante do imposto devido (R$ 1,6 bilhão). A operação é necessária para garantir o preço mínimo simbólico de R$ 50 mil no leilão de fevereiro.
– A privatização da CEEE-D vai atrair o interesse de muita gente porque a empresa atua em uma das áreas mais ricas do Brasil. É possível melhorar a eficiência – diz Leonardo Fração, sócio da gestora Nebraska Capital, que investe no setor de energia.
Sócio e responsável pela área de energia do TozziniFreire Advogados, Pedro Seraphim frisa que eventuais interessados devem fazer uma análise sobre os gargalos da CEEE-D. A partir daí, podem traçar estratégias em busca de ganhos de eficiência.
– A empresa, do jeito que está hoje, não é atrativa. O que vai torná-la atrativa é a capacidade do investidor de identificar possíveis ganhos de eficiência – aponta o especialista.
Atualmente, a estatal distribui energia para 1,7 milhão de unidades consumidoras, atendendo a cerca de 4 milhões de pessoas. CEO da Bateleur Assessoria Financeira, especializada em fusões e aquisições, Fernando Marchet também acredita que a companhia pode ser cobiçada por investidores. Contudo, frisa que a análise técnica sobre o processo dependerá de detalhes do edital e da modelagem.
– Aparentemente, haverá interessados, mesmo com a dívida. A distribuidora tem um mercado cativo. Parece interessante. Com plano de concessão adequado, deve atrair interessados – pontua.
A negociação da CEEE-D recebeu sinal verde no ano passado. À época, a Assembleia Legislativa aprovou a retirada da obrigatoriedade de plebiscito para a venda da companhia. Em seguida, autorizou a privatização.
Em janeiro deste ano, o presidente da CPFL Energia, Gustavo Estrella, confirmou à colunista de GZH Marta Sfredo o interesse na compra da estatal gaúcha, mas ressaltou que o preço determinaria a decisão. Controlada pela chinesa State Grid, a CPFL já atua no Rio Grande do Sul. É dona da RGE, que foi unificada à antiga AES Sul.
– Há possibilidade de sairmos de um monopólio que antes era estatal para o de uma empresa com capital estrangeiro – diz Ronaldo Lague, consultor na área da energia.