Os efeitos da pandemia do coronavírus no mercado de trabalho tornam-se cada vez maiores. A taxa de desocupação no Brasil ficou em 13,8% no trimestre encerrado em julho, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta quarta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é o percentual mais alto já medido na série histórica, com início em 2012. Dados da população subutilizada também são recordes, assim como o número de trabalhadores com carteira assinada caiu 8,8% e é o mais baixo em oito anos.
No mesmo período, em 2019, a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua estava em 11,8%. No trimestre até junho deste ano, era de 13,3%. A população desocupada (13,1 milhões de pessoas) ficou estável frente ao trimestre móvel anterior (12,8 milhões) e subiu 4,5% (561 mil pessoas a mais) em relação mesmo trimestre de 2019 (12,6 milhões). Com a retomada de atividades econômicas, mais pessoas passam a procurar a procurar emprego, o que eleva a taxa de desemprego — quando o trabalhador não está em busca de vagas, é considerado fora da força de trabalho, não sendo considerado para o índice.
A população ocupada (82 milhões, menor contingente da série) caiu 8,1% (menos 7,2 milhões pessoas) em relação ao trimestre anterior e 12,3% (menos 11,6 milhões) frente ao mesmo trimestre de 2019. O nível de ocupação (47,1%) também foi o mais baixo da série, caindo 4,5 pontos percentuais frente ao trimestre anterior e de 7,6 pontos contra o mesmo trimestre de 2019.
Segundo a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, as quedas no período da pandemia de covid-19 foram determinantes para os recordes negativos deste trimestre encerrado em julho:
— Os resultados das últimas cinco divulgações mostram uma retração muito grande na população ocupada. É um acúmulo de perdas que leva a esses patamares negativos.
A taxa composta de subutilização (30,1%) foi recorde na série, crescendo 4,5 pontos em relação ao trimestre móvel anterior (25,6%) e 5,6 pontos frente ao mesmo trimestre de 2019 (24,6%). A população subutilizada (32,9 milhões de pessoas) também foi recorde, subindo 14,7% (mais 4,2 milhões de pessoas) frente ao trimestre anterior e de 17% (mais 4,8 milhões de pessoas) contra o mesmo trimestre de 2019.
A população na força de trabalho (95,2 milhões de pessoas), a menor da série histórica, caiu 6,8% (menos 6,9 milhões) frente ao trimestre anterior e 10,4% (menos 11 milhões de pessoas) em relação ao mesmo trimestre de 2019. A população fora da força de trabalho (79 milhões de pessoas) foi recorde da série, com altas de 11,3% (mais 8 milhões de pessoas) em relação ao trimestre anterior e de 21,8% (mais 14,1 milhões de pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2019.
A população desalentada (5,8 milhões) foi recorde, com altas de 15,3% (mais 771 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e 20% (mais 966 mil pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2019. O percentual de desalentados em relação à população na força de trabalho ou desalentada (5,7%) também foi recorde, crescendo 1 ponto percentual frente ao trimestre anterior e de 1,4 ponto contra o mesmo trimestre de 2019.
O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos), estimado em 29,4 milhões, foi o menor da série, caindo 8,8% (menos 2,8 milhões de pessoas) frente ao trimestre anterior e de 11,3% (menos 3,8 milhões de pessoas) ante o mesmo trimestre de 2019.
O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (8,7 milhões de pessoas) caiu 14,2% (menos 1,4 milhão de pessoas) em relação ao trimestre móvel anterior e 25,4% (menos 3,0 milhões) ante o mesmo trimestre de 2019. O número de trabalhadores por conta própria (21,4 milhões de pessoas) caiu (-8,4% ou menos 2,0 milhões) frente ao trimestre móvel anterior e também ao mesmo período de 2019 (-11,6% ou menos 2,8 milhões de pessoas).
A renda média real do trabalhador foi de R$ R$ 2.535 no trimestre encerrado em julho. O resultado representa alta de 8,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 203,016 bilhões no trimestre até julho, queda de 4,7% ante igual período do ano anterior, segundo o IBGE.