O representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, afirmou nesta quarta-feira (17) que neste momento o país não têm planos de fechar um acordo de livre-comércio com o Brasil.
Durante audiência na Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara dos EUA, o chefe do USTr foi questionado por uma deputada democrata sobre preocupações do governo Donald Trump diante de valores democráticos que parlamentares americanos dizem que o Brasil não cumpre sob Jair Bolsonaro.
Lighthizer se ateve a uma fala rápida e reduziu as dimensões das tratativas comerciais com o Brasil.
— O que estamos fazendo agora com o Brasil é tentar resolver problemas específicos para que o país se abra e crie empregos para a América. No momento, não temos planos para um acordo de livre-comércio com o Brasil — disse Lighthizer.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, as negociações comerciais entre Brasil e EUA não previam um acordo de livre-comércio, ou seja, a eliminação de tarifas e outras barreiras entre os países.
Desde março, quando o presidente Jair Bolsonaro esteve em Washington e se encontrou com Donald Trump, os esforços dos técnicos de ambos os lados são no sentido de criar facilitação de negócios como um primeiro passo para um acordo mais amplo.
Alguns integrantes do governo e o próprio Bolsonaro, porém, seguiam falando em livre-comércio.
A fala de Lighthizer foi em resposta à deputada democrata Stephanie Murphy, da Flórida, Estado americano com que o Brasil mantém forte relação comercial.
Em uma sessão de mais de quatro horas, China, México e Reino foram países bastante citados pelos parlamentares e por Lighthizer. O Brasil apareceu na abertura da sessão, como um dos países com quem os EUA discutem acordos e, depois, na pergunta da deputada.
Há duas semanas, o presidente da comissão, Richard Neal, comunicou oficialmente a Lighthizer que o comitê se opunha ao acordo comercial entre Brasil e EUA em uma carta assinada por 24 dos 25 deputados de oposição a Trump que compõem a comissão.
Murphy foi a única que não chancelou o documento e, nesta quarta, citou as exportações de seu estado como justificativa, mas disse que compartilhava das preocupações dos colegas.
Como revelou a Folha de S.Paulo, o governo brasileiro respondeu aos parlamentares dias depois da carta enviada a Lighthizer e disse que eles tinham uma visão "deturpada e desinformada" sobre Bolsonaro.
Indicado a embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster foi escalado a enviar a resposta à presidência da mais importante comissão do Congresso americano.
Na carta, saiu em defesa de Bolsonaro, disse que os deputados levantam informações erradas ou imprecisas para ilustrar seus pontos de vista e fez inclusive críticas à lei trabalhista americana, afirmando que a legislação do Brasil neste caso é mais ampla e abrangente.
"Escrevo em relação à carta que você [Neal] e outros 23 democratas enviaram a Robert Lighthizer [...] na qual expressa 'fortes objeções à busca de um acordo comercial ou parceria econômica ampliada com o Brasil do presidente Jair Bolsonaro', a quem descrevem como 'um líder que desconsidera o estado de direito e tem desmantelado o árduo progresso nos direitos civis, humanos, ambientais e trabalhistas.' Esta é uma afirmação errônea, que parece se basear em deturpações e desinformação", diz o documento do governo brasileiro.
O diplomata disse que seu texto serviria de porta ao diálogo aos parlamentares mas não acreditava que a posição contrária deles impediria o andamento do acordo - ele é justamente um dos que não usa o termo livre-comércio para tratar do tema, mas sim acordo comercial bilateral.
Forster diz que, em outras ocasiões, integrantes da Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara também se opuseram a acordos que acabaram sendo fechados --como o que substituiu o Nafta, trato entre EUA, México e Canadá.
Os democratas têm maioria no colegiado que, muitas vezes, precisa dar autorização ao presidente americano para negociar determinados acordos comerciais que não sejam emendados pelo Congresso.