Em meio a polêmicas recentes envolvendo a atuação perante o avanço do coronavírus, a falta de uma aceitação global das medidas por ela recomendadas e até problemas envolvendo o uso de pesquisas científicas pouco críveis, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem despontado tanto como uma referência quanto como um alvo de ataques diante da pandemia, em especial de governantes como Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Foi a OMS que decretou — com atraso, dizem alguns — a pandemia mundial de coronavírus. A OMS definiu o novo protocolo sobre uso de máscaras. A OMS faz recomendação sobre uso de equipamento de segurança individual.
Mas o que é a OMS, qual sua importância e seu verdadeiro papel na preservação da saúde das populações no mundo inteiro? Entenda a seguir.
O que é?
A Organização Mundial da Saúde é um agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU) destinada às questões relativas a saúde. Fundada em 7 de abril de 1948, é um organismo multilateral que surge no cenário pós-Segunda Guerra Mundial e tem como objetivo garantir o grau mais alto de saúde possível para todos os seres humanos. A OMS tem um entendimento de saúde como um estado completo de bem-estar psicológico, físico, mental e social. A sede da OMS fica em Genebra, na Suíça.
O que faz?
O propósito principal da OMS é a execução dos melhores padrões de saúde por parte de todos os povos. A OMS proporciona a cooperação técnica a seus membros no combate a doenças e em favor do saneamento, da saúde familiar, da capacitação de trabalhadores na área de saúde, do fortalecimento dos serviços médicos, da formulação de políticas de medicamentos e pesquisa biomédica. A Organização Panamericana da Saúde (Opas) é o braço nas Américas da OMS e trabalha em conjunto com os governos da região.
Como funciona?
A organização conta com o trabalho de 7 mil pessoas de cerca de 150 países diferentes. Entre eles, há médicos, pesquisadores, especialistas em políticas de saúde pública e epidemias, estatísticos, economistas e profissionais que lidam com questões financeiras, administrativas e de sistemas de comunicação. A organização tem escritórios em cada um desses países, além de seis escritórios regionais e de sua sede em Genebra.
Responsável pelo estabelecimento dos padrões mais importantes da área da saúde, a OMS atua em assuntos tão diferentes quanto poluição, obesidade infantil, saúde mental, doenças infecciosas e estabelece listas de medicamentos essenciais. Também é a responsável por produzir a Classificação Internacional de Doenças, fundamental na área médica.
A cada ano, os Estados Membros da organização se encontram na Assembleia Mundial da Saúde para discutir e aprovar resoluções. A agência tem papel fundamental na elaboração de padrões internacionais na área de saúde pública e estimula a cooperação internacional entre as nações. O Brasil participa com uma delegação de sanitaristas vinculados ao Estado brasileiro, vindos de órgãos como o Ministério da Saúde ou de instituições respeitadas como a Fiocruz.
A OMS pode reprimir países que não seguem suas recomendações?
Na prática, a OMS não tem o poder de sancionar os países que não cumpram suas recomendações nem de se sobrepor às legislações nacionais. A função da entidade é definir padrões, fomentar a cooperação internacional e coordenar respostas a emergências.
Por que há oposição de alguns líderes à OMS durante a pandemia?
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro inicialmente descontextualizou e, posteriormente, criticou posicionamentos do atual diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, para tratar de distanciamento social e manutenção de empregos no contexto da pandemia de covid-19. A postura se repetiu com outros líderes, como Donald Trump, nos Estados Unidos, de forma que a OMS passou a ser alvo constante de alguns grupos políticos porque recomenda medidas de restrição de circulação de pessoas.
O que significa o "rompimento" dos Estados Unidos com a OMS?
Trump determinou a suspensão temporária das contribuições dos Estados Unidos à OMS acusando a entidade de "encobrir" a pandemia de coronavírus e de responder de forma inadequada à propagação da doença.
"Ordeno ao meu governo que suspenda as contribuições para a OMS enquanto revejo sua conduta, para determinar seu papel e sua grave má gestão e encobrimento da propagação do coronavírus", anunciou Trump em entrevista coletiva na Casa Branca em meados de abril.
No discurso, o presidente acusou a organização internacional de não ter independência em relação à China. Trump disse que "a omissão da China sobre o vírus de Wuhan" espalhou a covid-19 para o resto do mundo.
A OMS falhou em dar a devida importância ao avanço do coronavírus?
Somente em 12 de fevereiro peritos foram autorizados a deslocar-se a Wuhan, epicentro do surto de coronavírus no país asiático, para estudar a propagação da doença no local. Até então, a organização estava de fato dependente de informações de Pequim.
Como a OMS depende da cooperação voluntária de seus países-membros, que incluem a China, é possível avaliar que o órgão tenha aceitado as declarações e os dados chineses sobre o coronavírus de forma pouco crítica no início e, assim, desenvolvido estratégias de reação tarde demais.
Polêmica com hidroxicloroquina
Um dos assuntos que encorparam as críticas à OMS diz respeito à hidroxicloroquina, substância usada em alguns tratamentos contra covid-19 e defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. A entidade chegou a suspender as pesquisas com o medicamento para reavaliar sua segurança, após publicação em 22 de maio de um estudo na revista médica inglesa Lancet com dados de 96 mil pacientes que indicava que as duas drogas, hidroxicloroquina e cloroquina, estavam relacionadas a maior mortalidade. Em 3 de junho, voltou atrás.
— Com base nos dados disponíveis sobre mortalidade, o comitê recomendou que não há razões para modificar o protocolo de testes — disse na ocasião o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.