A diminuição dos deslocamentos em razão do distanciamento social já mostra impactos em um setor que é alternativa frequente a quem enfrenta o desemprego, ampliando a crise imposta pela pandemia de coronavírus. Por falta de demanda, motoristas de aplicativos de transporte que dependem de carros alugados devolveram os veículos às locadoras nos últimos meses.
Em todo o país, 160 mil veículos alugados por motoristas de app já foram entregues em razão do baixo movimento. Impulsionado pela popularização dessas plataformas, o crescimento contínuo das locadoras que, entre 2016 e 2019, viram o faturamento saltar de R$ 13,8 bilhões para R$ 21,8 bilhões, foi estancado. Com o recuo dos apps, a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) projeta, no máximo, igualar o resultado do ano passado em 2020.
– Para se adaptar, várias locadoras reduziram jornadas e salários. Tem empresas que estão procurando estacionamentos de shoppings e terrenos para abrigar essa frota que está parada – conta o presidente da Abla, Paulo Miguel Júnior.
Uma das maiores do setor, a Movida registrou, em seu balanço do primeiro trimestre, o primeiro prejuízo desde a abertura do capital, em fevereiro de 2017. A companhia teve perda de R$ 114,4 milhões, ante lucro de R$ 42 milhões no mesmo período de 2019.
Os maus resultados estimularam a locadora a divulgar promoções (em alguns casos de mais de 50% de desconto) e fazer parcerias com empresas para transportar funcionários.
– Estimamos que as corridas por app de transporte tenham caído 70%. O impacto mais significativo foi na primeira semana de distanciamento. Acredito que irá começar uma retomada muito lenta da atividade, puxada por São Paulo – projeta o diretor-executivo da companhia, Jamyl Jarrus.
Maior frota do país, com mais de 300 mil veículos, a Localiza registrou lucro no primeiro trimestre, mas também tem sido impactada pela pandemia. Em abril, a frota média alugada teve redução de 33% em relação aos primeiros três meses, caindo para 105,2 mil veículos.
Menos carros, menos viagens, menos motoristas
No Rio Grande do Sul, locações de turismo e negócios caíram 95% no período, segundo o Sindicato das Empresas de Locação de Bens Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Sindloc/RS). A estimativa é de que pelo menos 2,5 mil carros utilizados para viagens de aplicativos tenham retornado às locadoras.
A situação também é desanimadora em âmbito local. Segundo a Associação de Motoristas Privados e de Tecnologias (Ampritec), somente em Porto Alegre, os veículos alugados representam cerca de 50% da frota dos aplicativos. Desses, a entidade calcula que mais de 60% tenham devolvido os carros nos últimos meses.
– O pessoal não tinha como bancar carro locado porque não tinha corrida. Antes da crise, faziam, em média, 25 corridas por dia. Agora são sete ou oito. Só ficaram aqueles que têm carro próprio ou que não têm outra opção – diz o presidente da Ampritec, Reinaldo Ramos.
Dos mais de 20 mil motoristas que circulavam na Capital, Ramos acredita que apenas um terço siga operando regularmente. As jornadas também aumentaram. Se antes era normal um motorista passar 12 horas na rua, há quem esteja rodando até 16 horas diárias para tentar compensar a falta de demanda.
Motorista de aplicativos há quatro anos, Márcio Teixeira, conhecido como Mumuzinho, foi um dos que desistiram de utilizar o serviço das locadoras durante a pandemia. Segundo ele, a escassez de viagens tornou inviável pagar a taxa de R$ 550 por semana cobrada pela companhia.
– Tive que entregar. O serviço caiu muito, todo mundo se assustou. Fiquei um mês em casa – recorda.
Quando as reservas estavam prestes a se esgotar, Mumuzinho contou com a sorte para retornar ao volante. Um amiga ofereceu alugar seu carro por um valor mais acessível que o das locadoras. Hoje, mesmo com o movimento fraco, consegue trabalhar.
Já outros motoristas seguem parados. Para tentar ajudar os que estão em pior situação, ele e outros colegas criaram um banco de alimentos, e estão doando itens básicos a cada mês.
As plataformas de transporte não abrem os dados, mas admitem que houve queda nas viagens. Para tentar driblar a crise, os apps Garupa, 99 e Cabify ampliaram a gama de produtos, incluindo o serviço de delivery. A Uber respondeu citando os fundos de R$ 32 milhões mobilizados para combate à pandemia. Veja o que dizem as empresas:
Garupa
“O Garupa – aplicativo de mobilidade 100% brasileiro –, assim que tomou conhecimento da pandemia do coronavírus no Brasil, agiu rápido , criando medidas de segurança e proteção para motoristas e passageiros.
São três novas modalidades: Delivery, Moto Delivery e Seguro. No Garupa Delivery, o objetivo é diminuir a aglomeração de pessoas em restaurantes, supermercados, farmácias e demais estabelecimentos. O serviço de entrega funciona em todo Brasil.
Além disso, foram distribuídos para motoristas de Porto Alegre, Santa Maria, Rio Grande e Florianópolis kits de proteção com máscaras e álcool em gel.
Apesar disso, o impacto tem sido grande em razão do baixo movimento de pessoas nas ruas.”
99
“Desde o começo da crise, a 99 vem monitorando o cenário e buscando alternativas para minimizar os impactos nos ganhos dos motoristas parceiros. A empresa possui uma política já consolidada de garantir ganhos maiores aos condutores do que as demais empresas, mas o atual momento impacta de forma mais direta nosso setor. Por isso, para garantir a renda dos motoristas gaúchos, a empresa doou 20 mil corridas à prefeitura de Porto Alegre para o transporte de profissionais de saúde e para a vacinação de pessoas de grupo de risco. Além disso, também está participando de campanha de arrecadação de donativos para instituições parceiras e da Campanha do Agasalho da prefeitura. Nesses casos, os valores das corridas são inteiramente destinados aos motoristas parceiros.
A empresa disponibilizou, ainda, um fundo para ajudar motoristas diagnosticados com a covid-19. Esse fundo foi disponibilizado pela Didi, dona da 99, para atender a todos os mercados de atuação da empresa no mundo, no valor de US$ 10 milhões.”
Cabify
“As iniciativas que tomamos para reverter a queda de viagens foram:
Lançamento da categoria Entrega: categoria que permite que usuários e empresas façam envios de produtos sem contato físico por meio dos nossos motoristas e taxistas. Dessa forma, os motoristas podem ter ganhos extras, e os usuários, ficar em casa;
Distribuição de kit de segurança e aplicação de cabine de isolamento: a empresa começará a distribuir máscaras laváveis e álcool em gel para seus motoristas ativos e, para alguns, a Cabify irá instalar películas de isolamento.
Importante ressaltar que essa medida tem duração de meses é foi uma alternativa mais perene que a empresa enxergou de proteger a todos.
A Cabify vai habilitar em seu aplicativo uma funcionalidade na qual os motoristas podem selecionar que estão equipados com máscara e álcool em gel."
Uber
Neste link, você encontra informações sobre as ações mais recentes que a Uber e abaixo nossa última divulgação sobre os investimentos os parceiros e a comunidade.
Nós não divulgamos os dados solicitados, pois a Uber é de capital aberto e segue a regulamentação do mercado de capitais.