Atingida pela crise do setor do transporte público desde 2014, com queda de passageiros e aumento de custos operacionais, a Transporte Nossa Senhora das Graças (TNSG), companhia que presta o serviço de transporte coletivo em Cachoeira do Sul há 64 anos, sofreu novo baque financeiro com a pandemia do coronavírus e ingressou com pedido de recuperação judicial. O objetivo é reestruturar as contas da empresa, que soma R$ 3,6 milhões em dívidas com 157 credores. A TNSG seguirá circulando com suas linhas de ônibus durante a recuperação, sem paralisação dos serviços no município de 82,2 mil habitantes localizado no Centro do Estado.
Desde o início da covid-19 e das medidas preventivas de isolamento social, o quadro da companhia foi reduzido de 98 para 44 funcionários, com 54 demissões. A queda nas receitas foi de 85%, e a frota circulante foi diminuída de 28 para apenas sete carros em operação.
— A partir de 2014, houve queda bruta no número de passageiros e os custos subiram. Não existe subsídio, as gratuidades estão aumentando e isso faz com que a tarifa e os custos cresçam. Enfrentamos desequilíbrio econômico-financeiro há três gestões municipais. A pandemia foi o empurrão que faltava para a empresa. Nos socorremos contratando um escritório de administração de crise e esperamos que, com a retomada do comércio na cidade, a movimentação melhore nos próximos dias — diz Waldir de Souza, diretor operacional da TNSG.
Para exemplificar o cenário completo de perda de receitas, ele apresentou os dados históricos da queda de passageiros pagantes ao mês: eram 340 mil há cinco anos, foram 230 mil em 2019 e, a partir do início de 2020, o número de viajantes estava em 195 mil.
No ritmo dos dois primeiros meses deste ano, eram 6,5 mil passageiros pagantes ao dia. Agora, durante a pandemia, são apenas 850 transportados diários.
Se houver crescimento pela demanda nos próximas dias, Souza diz que a frota será incrementada com os veículos que estão parados. A recontratação de funcionários é vislumbrada, afirma o diretor.
Para ele, o alto custo da passagem de ônibus é o maior causador da diminuição de passageiros em Cachoeira do Sul, mas a avaliação é de que o transporte individual por aplicativos também começa a afetar o sistema de coletivos no Interior. A solução, entende o diretor, passaria por corte de custos com linhas e horários de ônibus que dão prejuízo por viajar com poucos passageiros. Tentativas de modificar isso, contudo, esbarram em vedações da prefeitura, que alega diminuição da oferta à população. A reportagem contatou o prefeito de Cachoeira do Sul, Sergio Ghignatti, mas não houve retorno.