Com mais de 14 mil mortes no mundo, a covid-19 mudou a rotina de pessoas, transformou o trabalho e impossibilitou milhares de viagens aos mais diversos países. O turismo é um dos setores em que as perspectivas são mais pessimistas.
No Brasil, conforme a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o coronavírus provocou uma queda de 75% na demanda por voos domésticos e uma redução de 95% no mercado internacional, comparando o período atual com 2019. Dados parecidos com os fornecido pela Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav): neste mês, já houve taxa de cancelamentos de viagens de 85%.
Conforme a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), uma estimativa feita pelo órgão aponta que, apenas na primeira quinzena de março, o volume de receitas no Brasil caiu cerca de 16,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso representa uma perda equivalente a R$ 2,2 bilhões, segundo a CNC.
Os números internacionais assustam ainda mais. De acordo com a World Tourism Forum Institute, a pandemia pode causar perda de até U$S 1 trilhão no turismo global. A head da empresa, Bulut Bagci, já calcula prejuízo de cerca de U$S 600 milhões. As demissões podem chegar à casa dos 50 milhões de pessoas.
"Não cancele, adie"
Como lidar com a situação? Buscando não comprometer as finanças das empresas do setor, a Abav vem anunciando uma campanha com o seguinte slogan: "Não cancele, adie". A ideia é que os turistas não desistam de suas passagens, mas apenas posterguem seus planos de viagem. Isso evitaria que as agências tivessem de arcar com os custos de reembolso.
"O consumidor que adia sua programação para o futuro garante sua segurança e ainda colabora com esse setor, que tem grande peso na economia nacional e mundial, englobando atividades como restaurantes, hospedagem e similares, transporte de passageiros, agências de viagens, cultura e lazer", explica a Abav, em nota.
Lúcia Bentz, presidente da Abav-RS, afirma que a entidade não está medindo esforços para lidar com a situação:
— No momento, tudo está parado, e os agentes estão empenhados para ajudar os clientes, seja para retornar para suas casa ou adiando as viagens programadas. A gente tem notado que as pessoas estão sendo sensatas em não comprar nada agora e estão deixando tudo normalizar para evitar futuros problemas.
Medidas emergenciais
A associação não estabelece um prazo para que as coisas retornem ao seu rumo natural, mas imagina que, a partir de abril, a situação se torne menos grave. Na última semana, inclusive, as principais entidades do setor no Brasil formalizaram uma carta, enviada ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, contendo cinco medidas emergenciais visando garantir a sustentabilidade das empresas. As principais reivindicações foram:
- Disponibilização de linha de crédito especial na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil para as empresas de turismo, com carência para início do pagamento de, no mínimo, seis meses (o governo disponibilizou linhas de financiamento de capital de giro por Banco do Brasil, Caixa e BNDES)
- Aprovação de decreto para postergar o pagamento de impostos relativos à folha de pagamento, também por seis meses, desde que quitados no exercício de 2020
- Liberação do saque do FGTS para funcionários de empresas que exerçam atividade turística
- Parecer favorável do Ministério da Justiça em relação à remarcação de viagens contratadas pelo consumidor, frente ao cancelamento e à devolução de valores. As agências não têm reservas, hoje, para realizar a devolução de valores, e a remarcação da viagem seria uma solução para manutenção do negócio sem prejudicar o consumidor
- Redução do IRRF a 0% nas remessas para pagamentos de serviços turísticos ao Exterior
- Liberação do saque do FGTS para funcionários de empresas que exerçam atividade turística
- Parecer favorável do Ministério da Justiça em relação à remarcação de viagens contratadas pelo consumidor, frente ao cancelamento e à devolução de valores. A remarcação da viagem seria uma solução para manutenção do negócio sem prejudicar o consumidor (o governo acolheu o pedido)