Principal instrumento de política monetária do Brasil, a Selic serve como referência para todas as taxas de juros do país, indo das aplicações financeiras aos empréstimos. Neste contexto, um dos principais efeitos causados pelo juro baixo é a queda no rendimento dos produtos de renda fixa de bancos e corretoras, como poupança, fundos e Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Em alguns casos, o ganho fica abaixo da inflação.
Em novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulou alta de 3,27% em 12 meses. Já a última edição do Relatório Focus, do Banco Central, projeta IPCA de 3,6% para 2020.
Em meio a esse contexto, o juro básico a 4,5% ao ano faz com que o retorno da poupança seja inferior à inflação, de acordo com a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Na nova configuração, a aplicação mais popular do país passa a ter rendimento anual de 3,15%, o equivalente a 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR). Fundos de renda fixa com taxa de administração acima de 1% também perdem da inflação.
— Com o juro alto no Brasil, a maioria das aplicações estavam direcionadas à renda fixa. Agora, por conta dessa mudança de cenário, mais brasileiros tendem a migrar para a renda variável, repetindo um fenômeno que aconteceu na Europa e nos Estados Unidos no passado — projeta Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Anefac.
Além disso, a redução do juro básico tende tornar mais barato o custo do crédito para pessoas físicas e empresas. Isso porque o custo de captação dos bancos cai. No entanto, a velocidade de redução na ponta final não segue a mesma proporção. Segundo levantamento da Anefac, com a nova Selic, a taxa de juro média praticada junto a pessoa física deve ser de 113,19% ao ano, enquanto na pessoa jurídica tende a ficar em 45,43%. Um ano atrás, eram de 119,97% e 52,34% ao ano, respectivamente. Oliveira ressalta que fatores como o elevado índice de desemprego no país e concentração bancária contribuem para que a diferença para o juro básico ainda seja alta.