Reflexo da crise, o número de desempregados que procuram trabalho por dois anos ou mais rompeu, pela primeira vez, a marca dos 100 mil no Rio Grande do Sul. Após ensaiar trégua, esse grupo atingiu a marca de 106 mil pessoas no terceiro trimestre, alta de 17,8% frente a igual intervalo de 2018. É o nível mais elevado da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012.
De julho a setembro, o número de profissionais nessa situação correspondeu a 19,7% de todos os desempregados no Estado (540 mil). Ou seja, um a cada cinco desocupados encarava a escassez de vagas por 24 meses ou mais. O tamanho do grupo é similar ao da população de Erechim (105,1 mil habitantes), no norte do Rio Grande do Sul.
Os dados foram levantados por GaúchaZH a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, cuja edição mais recente foi divulgada na semana passada.
– Trabalhadores perderam o emprego, não conseguiram voltar ao mercado e passaram ao grupo de quem procura trabalho há dois anos ou mais. É uma espécie de efeito acumulativo – define o coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues.
A parcela de 106 mil desocupados é formada por 68 mil mulheres e 38 mil homens. Por idade, os mais afetados são os de 18 a 24 anos. Para o IBGE, o trabalhador é considerado desempregado quando está afastado do mercado e segue em busca de recolocação. Se exercer os populares bicos no período de procura, deixa de integrar o contingente de desocupados.
A informalidade foi o caminho que se abriu para Bianca Rodrigues, 18 anos, obter alguma renda. Moradora da Capital, a jovem procura há cerca de dois anos o primeiro emprego com carteira assinada. Diante das dificuldades, passou a exercer atividades de babá e faxineira, sem registro formal.
Na última quarta-feira à tarde, Bianca encarou o calor superior a 30°C para ir ao prédio do Sine, no centro de Porto Alegre, em busca de trabalho com carteira. Ela concorre a vagas de atendente no comércio. Com Ensino Médio incompleto, a jovem pretende voltar a estudar no próximo ano.
– Busco a vaga que aparecer, em funções como a de atendente. Gosto muito de lidar com o público– conta Bianca, que sonha em cursar Medicina no futuro.
Segundo o economista Giácomo Balbinotto Neto, professor da UFRGS, o longo período de procura por trabalho pode ser explicado pelo fenômeno chamado de histerese. O termo é usado para descrever movimentos duradouros que ganham força com crises – neste caso, o desemprego.
– As dificuldades serão superadas quando a economia voltar a crescer de maneira mais forte – sublinha Balbinotto Neto.
No país, o número de desempregados há pelo menos dois anos oscilou para 3,1 milhões no terceiro trimestre, baixa de 1,2% frente a igual período de 2018. Esse grupo correspondeu a 25,2% de todos os desocupados à época (12,5 milhões). Ou seja, uma a cada quatro pessoas sem trabalho no Brasil.
Conforme o professor Mauro Rochlin, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o país tem de acelerar a agenda de reformas para conseguir crescer mais, com efeitos sobre o mercado de trabalho. Ele avalia que o juro básico no menor nível de sua história também pode estimular a atividade e os investimentos de empresas, mas lembra que o Brasil não está imune a riscos, como a turbulência na América Latina.
Como se preparar
- Especialistas apontam que a busca por qualificação pode gerar benefícios a quem procura novo emprego. No Rio Grande do Sul, entidades oferecem cursos para incrementar o currículo, tanto gratuitos quanto pagos.
- O Senac-RS é uma das instituições com atividades de aperfeiçoamento profissional nas áreas de comércio e serviços. São cerca de 600 presenciais e a distância. Mais informações podem ser obtidas por meio do site, do telefone 4002-6030 ou nas 60 unidades da instituição no Estado.
- Na indústria, também há opções disponíveis. O Senai-RS contabiliza cerca de 1,5 mil cursos, que contemplam desde aulas presenciais e semipresenciais até modalidades totalmente a distância. Detalhes no site.
- A Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS) dispõe de atividades gratuitas. Informações podem ser consultadas no site. Diretor-técnico da instituição, Darci Cunha afirma que, mesmo com as dificuldades associadas ao desemprego, “todos os dias surgem novas vagas de trabalho nas agências do Sine”.
- Cunha menciona que a recomendação é ir até uma dessas unidades para manter o currículo atualizado e concorrer aos postos de emprego. O diretor acrescenta que, com o final de ano, setores como o comércio costumam abrir vagas temporárias.