Com a perspectiva de atraso na reforma da Previdência, a Bolsa brasileira recuou 1,939% nesta terça-feira (25), maior queda percentual do mês. Segundo Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da maioria na Câmara dos Deputados, a votação da proposta na comissão especial pode ficar para a próxima semana após reunião com o relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP).
O mercado seguia a expectativa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de aprovar a proposta na comissão especial até quinta-feira (27). Caso fique para a primeira semana de julho, o projeto pode ser votado no plenário apenas no segundo semestre.
Além do contratempo, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu julgar o pedido de habeas corpus do ex-presidente Lula, o que ampliou as perdas do Ibovespa. No pior momento do dia, quando decisão se tornou notória, o índice recuou 2,13%, a 99.890 pontos. O dólar subiu 0,650%, a R$ 3,853.
No exterior, o viés também foi negativo com queda de confiança do consumidor americano. Ao contrário da previsão de estabilidade de economistas, o índice recuou cerca de 10 pontos em relação a maio e foi para 121,5 em junho, menor patamar desde setembro de 2017.
Além disso, o discurso cauteloso do presidente do Fed (Banco Central Americano), Jerome Powell, trouxe insegurança quanto a um corte na taxa de juros americana. Segundo Powell, a grande questão em torno de um corte é se a incerteza sobre disputas comerciais dará suporte para uma redução na taxa básica de juros americana.
Fora a guerra comercial com a China, os Estados Unidos impôs sanções econômicas ao Irã em retaliação a um drone americano que foi derrubado no golfo de Omã.
Com o noticiário negativo, os índices da Bolsa de Nova York Dow Jones e S&P 500 recuaram 0,67% e 0,95%, respectivamente. O Nasdaq caiu 1,51%. Na Europa, Frankfurt recuou 0,38% e Londres se manteve estável.
No Brasil, o Ibovespa recuou 1,93%, a 100.092 pontos. O giro financeiro foi de R$ 15,145 bilhões.
— A principal razão desta queda é a frustração com o atraso da reforma da Previdência. Se o projeto não for votado na comissão nesta semana, o cronograma começa a ficar muito atrasado. Com mais tempo de tramitação temos mais discussão e mais atraso — afirma Victor Cândido, economista-chefe da Guide Investimentos.
— O julgamento do habeas corpus de Lula assustou o mercado. O Lula solto é um componente de ruído no ambiente político — diz Cândido.
O economista ressalta que uma parte da queda também é de realização de lucros, após fortes desempenhos do índice na última semana, quando bateu a máxima de 102 mil pontos.
Nesta terça, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou a ata da sua última reunião, quando optou pela manutenção da taxa de juros. O documento veio sem surpresas e reforçou a perspectiva de que uma queda na Selic depende do andamento da reforma da Previdência.
— Apesar dos fatores que interromperam risco de crescimento da economia (citados na ata) terem cessado, como a greve dos caminhoneiros, o principal risco é o fiscal. O Banco Central deve ser mais cauteloso e aguardar a reforma da Previdência — afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
Com um possível atraso no corte da Selic, previsto por parte do mercado para acontecer em julho, os contratos futuros de juros tiveram alta nesta terça. O contrato de setembro deste ano recuou de 6,310% para 6,345%. O contrato de junho de 2020 subiu de 5,790% para 5,885%.
O economista também cita a crise na Argentina, que afetou a economia brasileira. "Agora, porém, o mercado se ajustou e adaptou o estoque de exportação", diz Tingas.