Ao argumentar que a reforma da Previdência não atingirá os mais pobres, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quarta-feira (3) que "moça de classe média alta" terá que trabalhar por mais tempo e pagar contribuições mais altas.
Em audiência na Câmara, o ministro afirmou que as mulheres mais pobres já se aposentam, no sistema atual, em média com 61,5 anos. Guedes, entretanto, não citou as fontes desses dados.
A proposta do governo eleva a idade mínima de aposentadoria das mulheres para 62 anos.
— Passou para 62 (na proposta), você não atingiu (as mais pobres). Você atingiu justamente a moça de classe média alta que fez um concurso público novo, nunca ficou desempregada, contribuiu a vida inteira e se aposenta aos 55, 56. Essa vai ter que trabalhar mais sete anos e vai contribuir mais — disse.
Polêmica no início
O ministro chegou à Comissão acompanhado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que chegou a compor a mesa, mas saiu ainda no início do encontro. O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, acompanha da sessão, que iniciou às 14h10min.
No entanto, Guedes começou a explicar a reforma da Previdência apenas às 14h22. Pois antes, houve uma discussão entre o ministro e parlamentares da oposição.
— O Chile tem 26 mil dólares de renda per capita, o dobro do Brasil. A Venezuela deve estar melhor, né? — afirmou o ministro quando deputados da oposição gritaram no plenário da comissão que a reforma da Previdência tornaria o Brasil o vizinho latinoamericano, com um modelo privatizado de seguridade social.
O ministro falaria direto por 20 minutos, sem perguntas de parlamentares. No entanto, o entrevero disparou uma confusão na comissão. Deputados do PSOL levantaram cartazes com dizeres como "PEC da Morte" e "Reforma para banco lucrar", e o deputado Henrique Fontana (PT-RS) e Guedes bateram boca.
— Se você falar eu vou falar também — afirmou Guedes a Fontana.
O presidente da comissão, Felipe Francischini (PSL-PR), tentava retomar a sessão e pedia decoro, sem sucesso, aos seus pares.
— Isso aqui não é briga de rua — afirmou Francischini.
Depois de cerca de cinco minutos, o ministro pediu desculpas e disse que é "muito respeitoso", mas emendou em uma provocação.
— Eu cometi o erro de falar sobre a Venezuela, e vocês cometeram o acerto de falar sobre o Chile. Eu acho que a Previdência deve ser maior em um deles — disse.