Depois da divulgação dos resultados da quinta edição do Índice de Desenvolvimento Estadual (iRS), no dia 7, seis especialistas debateram caminhos para recuperar as posições perdidas pelo Rio Grande do Sul. O objetivo do Fórum iRS, realizado nesta terça-feira (21) na PUCRS, em Porto Alegre, é discutir e apontar alternativas.
Neste ano, com atenção especial nas áreas de educação e segurança, as duas em que o indicador mais apontou deterioração. Baseado em dados de 2016 (os mais atuais disponíveis para as variáveis examinadas), o estudo mostrou que o RS perdeu uma posição na lista das 27 unidades da federação. Em 2016, segundo ano consecutivo de recessão, o Rio Grande do Sul caiu para o quinto lugar, sendo ultrapassado pelo Paraná.
Os gaúchos perderam posições em duas das três dimensões observadas. Em educação, área em que está mais longe do topo, caiu do nono para o 11º lugar, ficando abaixo da média nacional. Em longevidade e segurança, passou da terceira para a quinta colocação. Apenas manteve em padrão de vida.
O fórum foi dividido em dois painéis. O primeiro avaliou os desafios na educação, com mediação da colunista de economia de ZH Marta Sfredo. No segundo, a discussão sobre segurança foi conduzida pelo editor-chefe de ZH, Carlos Etchichury.
Melhoria nas escolas passa por valorização e intercâmbio
Valorizar e engajar os envolvidos no ecossistema educacional, pesquisar experiências de outros países e rediscutir possíveis mudanças no sistema de ensino são algumas das alternativas que podem ajudar a implementar melhorias na educação, segundo os painelistas que debateram o tema no Fórum iRS.
A professora da UFRGS Maria Beatriz Luce relativizou o uso isolado de ferramentas de medição de desempenho do aluno para avaliar a qualidade e criticou reformas conduzidas sem participação, “de cima para baixo”:
– Professores e alunos querem uma escola melhor, mas não são vistos como capazes para esse processo. Há preocupação demais em provas que medem só desempenho individual. A educação é mais complexa.
Professora da PUCRS, Lucia Giraffa pontuou que é preciso envolver todo o ecossistema educacional – pais, gestores, colaboradores e professores:
– O que fazer pelo filho dos outros em quatro horas, quando chegam, às vezes, desprovidos de questões basilares? Não se pode sobrecarregar os docentes. É preciso revalorização dos profissionais. Os alunos precisam ter a vontade de aprender despertada por quem está à frente da sala de aula. Essa pessoa deve ser qualificada com leituras e vivências. E, para isso, é necessário equipar esse agente, não só com recurso tecnológico.
Especialista em Ensino Superior e consultor de startups de educação e universidades em países como Reino Unido, Índia, Estados Unidos e Brasil, Bruno Morche, destacou a importância de olhar para experiências de outros lugares e tentar adaptá-los à realidade brasileira:
– Ficamos muito focados nas instituições do país e olhamos pouco para fora. Claro que são realidades sociais, culturais e educacionais diferentes. Mas é importante estar aberto para perceber como isso pode contribuir para nós.
Prevenção depende de nova política prisional e tecnologia
Os painelistas que trataram de segurança propuseram repensar o sistema prisional e usar a tecnologia como aliada para prevenir o crime e, assim, melhorar os índices no Rio Grande do Sul e reduzir ocorrências.
Procurador de Justiça Criminal e coordenador do Núcleo de Apoio à Fiscalização de Estabelecimentos Penais, Gilmar Bortolotto acompanha a situação dos presídios há duas décadas. Para ele, a maneira como a sociedade pensa a situação carcerária tem relação com os problemas fora dos muros da prisão:
– Tem de ter política para egressos, para que quem quer sair do crime tenha condições de fazer isso. Cerca de 70% dos presos reincidem porque a cadeia é um escritório de recrutamento. É preciso valorizar o servidor. Isso influi na nossa vida, pois não há realidade que atinja só pessoas selecionadas.
O diretor do Foro da Comarca de Lajeado, Luis Antônio Johnson, relatou a experiência do Presídio Feminino de Lajeado, construído em parceria com a comunidade:
– Havia a necessidade desse estabelecimento prisional para mulheres, e os cidadãos se organizaram para construir. Foi feito em um ano e dois meses. Atualmente, há 37 detentas, mas cem já passaram por lá. Desde a inauguração, nunca houve apreensão de drogas ou celulares. Apostamos em educação, trabalho e espiritualidade. A união da comunidade é um dos caminhos para a superação dos problemas de violência e, consequentemente, de segurança pública.
A professora da PUCRS Soraia Musse apresentou tecnologias de reconhecimento facial e de veículos, desenvolvidas e aplicadas no Estado, que podem servir de ferramentas para prevenir e combater crimes. A China, comparou, é o país que mais usa tecnologia com essa aplicação:
– A tecnologia tem ser usada como ferramenta para auxiliar em gestão e tomada de decisões.