O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que a atividade na América Latina continua a se recuperar, porém ainda em um quadro de dificuldades. No caso específico do Brasil, o FMI reafirmou que prevê crescimento de 1,8% em 2018 — em abril, projetava alta de 2,3%. Para 2019, a projeção foi mantida em 2,5%.
O fundo cita como causas as condições globais mais restritas e a recente greve dos caminhoneiros no país. "O resultado incerto das eleições gerais de 2018 pode pesar mais sobre o crescimento", alerta o fundo.
O FMI cita ainda que os esforços para aprovação de uma "muito necessária reforma da Previdência", que ele julga como "uma medida chave para a consolidação fiscal subjacente", estão paralisados por causa do calendário eleitoral.
América Latina
Segundo o fundo, após um crescimento de 1,3% na America Latina em 2017, deve haver avanço de 1,6% em 2018 e de 2,6% em 2019. O resultado é mais modesto que as projeções de abril, que eram de +2% e +2,8%. As projeções repetem as divulgadas na semana passada pelo fundo.
—Embora o crescimento tenha acelerado em alguns países, a recuperação tornou-se mais dura para algumas das principais economias, por causa de pressões do mercado em um nível global, amplificadas por vulnerabilidades específicas dos países — afirma Alejandro Werner, diretor do Departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo.
Em sua análise, Werner diz que as condições para a demanda global e as finanças tornaram-se mais frágeis, com riscos de baixa maiores e em um quadro de aperto gradual das condições financeiras pelo mundo.
— Uma escalada nas tensões e conflitos comerciais aumenta os riscos de baixa para a perspectiva atual, inclusive por meio de seu impacto potencial sobre a incerteza e o investimento — sustenta.
A Argentina, por sua vez, deve sofrer contração econômica no segundo e no terceiro trimestres deste ano.
— O crescimento neste ano deve desacelerar para 0,4%, com recuperação gradual em 2019 e 2020, apoiada pela volta da confiança no âmbito do programa de estabilização apoiado pelo fundo — argumenta Werner, citando que isso deve gerar um custo mais baixo de capital, inflação menor e demanda maior de exportações dos parceiros.
O Chile, na contramão, deve crescer 3,8% neste ano, acima da projeção anterior de +3,4%, diz o FMI, que cita a força da confiança das empresas e dos consumidores no país.
Caso mais grave é o da Venezuela, que enfrenta "profunda crise econômica e social". O PIB real do país deve encolher 18% neste ano e 5% em 2019, com queda forte na produção de petróleo e muitas distorções microeconômicas, em um quadro de "grandes desequilíbrios macroeconômicos", diz o FMI.
Além disso, o fundo projeta inflação e 1.000.000% no fim de 2018, comparando o quadro no país à Alemanha de 1923 ou ao Zimbábue do fim dos anos 2000. O fundo prevê ainda a disseminação de efeitos negativos do quadro venezuelano em países vizinhos, sem entrar em detalhes.
Em relação ao México, o fundo diz que o quadro é de dúvidas por causa do futuro do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), que os EUA renegociam com o país e o Canadá. O PIB mexicano deve acelerar e avançar 2,3% em 2018 (de +2,0% em 2017), diz Werner, porém há incertezas para os investimentos e, em menor medida, para o consumo privado.
"Um compromisso claro com a responsabilidade fiscal e a contínua redução do nível da dívida pública pelo governo recém-eleito serão cruciais para preservar a estabilidade macroeconômica e financeira", afirma o fundo, ao fazer uma menção ao presidente eleito, Andrés Manuel López Obrador.