Paulo Paulino Alves de Melo, 46 anos, iniciou 2018 com o pé direito. No dia 2 de janeiro, o morador de São Sebastião do Caí conseguiu afastar a angústia do desemprego, que se arrastava por sete meses. Contratado como operador de máquinas pela Conservas Oderich, o técnico em segurança do trabalho precisou buscar aperfeiçoamento no dia a dia da empresa, já que, antes de preencher a vaga, nunca havia atuado em indústria de alimentos.
– Controlo a temperatura de câmaras frias e outros equipamentos. É algo completamente diferente dos meus empregos anteriores. Havia sido funcionário de uma empresa do setor elétrico e, em seguida, de uma fábrica calçadista, de onde fui demitido no ano passado – relembra Melo.
O caso do morador do Vale do Caí ilustra movimento positivo que permeou o mercado de trabalho gaúcho no começo do ano. Entre janeiro e março, o Rio Grande do Sul criou 43.771 empregos formais. O saldo de 313.743 contratações e 269.972 demissões é o maior para o primeiro trimestre desde 2014. À época, o Estado havia aberto 50.848 vagas com carteira assinada, aponta o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
Apesar do resultado no azul, especialistas recomendam cautela. A economista Lucia Garcia, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), sublinha que a base de comparação é baixa, porque, nos últimos anos, a recessão derrubou a geração de empregos tanto em solo gaúcho quanto nos demais Estados.
– A crise começou depois da eleição da ex-presidente Dilma Rousseff. Quando o conflito político se formou no país, o mercado de trabalho desceu ladeira abaixo. É natural que, após chegar ao fundo do poço, os números sejam calibrados um pouco para cima – relata Lucia.
Cautela diante de incerteza política
O saldo de empregos formais entre janeiro e março teve o desempenho da indústria de transformação como a principal influência positiva entre os setores pesquisados. Nesse período, as fábricas gaúchas abriram 24.938 vagas. Depois, no ranking dos resultados mais elevados, aparecem serviços (10.271) e agropecuária (6.094). No sentido contrário, o comércio fechou 1.281 postos de trabalho, o pior desempenho setorial.
– A retomada não é consistente. Há setores que crescem e outros que seguem negativos. A reforma trabalhista (em vigor desde novembro) ainda não teve impacto na criação de empregos – avalia o professor de Economia do Trabalho da UFRGS Giácomo Balbinotto Neto.
Nos próximos meses, incertezas da área política devem seguir com influência sobre as decisões de empresários, projeta o docente. A nuvem de dúvidas vinda de Brasília, segundo ele, pode impedir a criação de empregos em nível mais acelerado:
– A perspectiva de contratações será maior depois das eleições. A tendência é de que haja mais definições na política e na economia do país.