Após ter desistido da operação de venda de ações do Banrisul que incluía as ordinárias e as preferenciais, na última sexta-feira, o governo de José Ivo Sartori reviu a estratégia e marcou para esta terça-feira (10) um leilão de papéis preferenciais do banco. A negociação desses títulos – sem direito a voto nas decisões sobre a companhia – dispensa a exigência de autorização prévia e poderá render R$ 468 milhões ao Estado se forem vendidos pelo preço mínimo.
A operação cancelada na semana passada incluía tanto ações preferenciais quanto ordinárias. O Piratini decidiu abandonar a ideia inicial e se concentrar nos papéis sem direito a voto por três motivos. Primeiro, porque o valor das ordinárias vinha caindo no mercado.
Segundo, pelo risco iminente de um único acionista comprar os títulos com direito a voto e se tornar sócio estratégico, disputando decisões com o Estado. Por fim, o governo entendeu que a nova aposta é a forma mais ágil e segura de obter recursos emergenciais.
Conforme o banco informou à bolsa de valores, 26 milhões de ações serão ofertadas, com preço mínimo de R$ 18 – na segunda-feira (9), encerrou a R$ 19,15, em queda de 2,79%. Nos bastidores, a cúpula do Piratini ainda espera que o valor chegue a cerca de R$ 20, totalizando R$ 520 milhões.
O montante estimado é pequeno diante do déficit registrado nas contas estaduais em 2017 (de R$ 1,7 bilhão), mas o governo avalia que o dinheiro pode ajudar Sartori a voltar a pagar os salários do funcionalismo em dia – embora o custo mensal da folha de pagamento do Executivo seja três vezes maior (R$ 1,5 bilhão). O fim dos atrasos é classificado como vital para viabilizar a tentativa de reeleição do governador. No mercado, que defende a privatização do Banrisul, uma série de fatores coloca em dúvida a performance projetada pelo Piratini.
– Na prática, o governo passa a mensagem de que está queimando ações para pagar a folha. Para o investidor, essa não é a melhor medida. É muito ruim, na verdade, porque, se algum governador quiser privatizar o banco no futuro, terá menos ações para oferecer – avalia Wagner Salaverry, sócio-diretor da gestora de recursos financeiros Quantitas.
Para o analista, a indefinição em relação às eleições também pode se refletir no resultado da operação.
– Não sabemos quem serão, de fato, os candidatos a governador e, até agora, não saiu nenhuma pesquisa de intenção de voto. Isso traz incertezas e diminui a disposição dos investidores,
mas leilão em bolsa é sempre difícil prever. Só saberemos se haverá apetite para investir mais de R$ 18 terça-feira – conclui o especialista.
O Banrisul não se pronunciou sobre a operação. ZH procurou a cúpula do governo, mas ninguém quis se manifestar.
Como funciona
A operação de venda
Será realizada nesta terça-feira (10), das 12h15min às 12h30min, na bolsa de valores de São Paulo, a B3
Envolverá a oferta de 26 milhões de ações preferenciais do Banrisul
Quanto representam: 12,75% do total de preferenciais e 6,35% do capital total
Preço mínimo estipulado: R$ 18 por ação
Montante previsto, caso todas as ações sejam vendidas pelo preço mínimo: R$ 468 milhões
Responsável pela operação: BTG Pactual
O que são ações preferenciais?
São as que não dão direito a voto nas assembleias de acionistas.
Por que o governo do RS quer vender as ações?
Para fazer caixa e quitar a folha de pagamento dos servidores do Executivo, que já foi parcelada em 28 meses (até março) desde o início do atual mandato.
O governo desistiu de vender as ações na última sexta-feira. Por que voltou atrás?
Porque decidiu negociar apenas as ações preferenciais. Antes, estava prevista, também, a venda de ações ordinárias, que dão direito a voto.
O controle acionário continuará com o Estado?
Sim. Nada muda, porque o governo do Estado não vai vender nenhuma das ações ordinárias do banco, aquelas que dão direito a voto.