Para fazer um churrasco ou abastecer o carro, é provável que os gaúchos tenham de desembolsar mais dinheiro do que moradores de outros Estados. As explicações para os preços mais elevados estão relacionadas a fatores como questões logísticas, já que o Rio Grande do Sul fica em um dos extremos do mapa nacional, além de impostos.
Confira uma seleção de produtos que podem pesar mais no bolso dos consumidores locais.
Carne bovina
O preço da carne bovina em Porto Alegre é o mais salgado entre as capitais, aponta pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em fevereiro, os consumidores tiveram de pagar R$ 25,56, em média, pelo quilo do produto. Em segundo lugar no levantamento, aparece Aracaju (SE), onde o valor alcançou a marca de R$ 24,21.
A economista Daniela Sandi, do Dieese, afirma que o preço mais alto em Porto Alegre é resultado de uma combinação de ingredientes. Como o Rio Grande do Sul é um dos principais produtores e exportadores no país, a carne gaúcha apresenta qualidade superior, afirma a especialista:
— O preço tem influência do Exterior. Na Região Sul, também há um consumo per capita maior do produto em relação a outros locais do país. Além disso, existe uma tendência de longo prazo, em razão dos custos mais elevados de produção, de que a oferta de carne bovina crescerá menos do que a suína e a de frango.
Vinho
Em conversa com a colunista Giane Guerra, de GaúchaZH, o empresário Adriano Miolo declarou que um dos vinhos de sua companhia, o Miolo Seleção, mesmo produzido no Rio Grande do Sul, custa mais ao consumidor gaúcho do que ao de Estados como a Bahia. A explicação para a diferença nas gôndolas dos supermercados, segundo ele, reside no modelo de substituição tributária.
Com a adoção desse mecanismo no Rio Grande do Sul, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é cobrado no início das negociações do setor. Assim, as vinícolas têm de recolher o ICMS devido por todos os demais integrantes da cadeia produtiva, embutindo o tributo no preço de venda das mercadorias.
Em Estados como a Bahia, o imposto não é cobrado dessa forma. Defensores da substituição tributária avaliam que o modelo facilita a fiscalização dos pagamentos, já que a cobrança ocorre logo após a saída da indústria.
Conforme Miolo, o preço de seu vinho, em Porto Alegre, fica entre R$ 34 e R$ 35. Já nos supermercados baianos, o Miolo Seleção custa entre R$ 28 e R$ 29.
— Se um supermercado gaúcho comprar um produto de R$ 30 de uma vinícola daqui, o preço final terá o acréscimo de mais R$ 3, correspondentes aos 10% de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Além disso, haverá mais uma quantia referente à substituição tributária. Se algum supermercado da Bahia comprar o mesmo vinho aqui no Estado, pagará só os R$ 33 — menciona o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta.
Apesar de a substituição tributária ser alvo de críticas de empresários, o subsecretário da Receita Estadual, Mario Luis Wunderlich dos Santos, afirma que o governo do Estado busca formas de incentivo ao setor como desonerações. Em 2017, afirma Santos, esses benefícios fiscais chegaram a cerca R$ 52 milhões em ICMS das indústrias vitivinícolas.
— A substituição tributária cumpre papel importante porque possibilita a cobrança de tributos já nas primeiras fases da cadeia produtiva. Há restrições por parte das empresas, mas o Estado tenta compensá-las com benefícios fiscais — argumenta Santos.
Gasolina
Outro produto que se torna mais caro no Rio Grande do Sul na comparação com outros Estados é a gasolina. Em fevereiro, o preço médio do litro ficou em R$ 4,357, o sexto maior do país, conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O valor é o mais elevado da Região Sul.
Diretor da consultoria ES Petro, Edson Silva menciona que um dos fatores que elevam o preço gaúcho é a cobrança maior de impostos frente a outros Estados. Em 2016, a alíquota do ICMS da gasolina subiu de 25% para 30%.
Santos admite que o fator tributário tem impacto no preço final, mas lembra que esse aspecto não é o único responsável por elevar o valor cobrado nas bombas dos postos:
— A composição da gasolina tem álcool, que não é fabricado aqui no Estado. Isso agrega valor.
Etanol
Os postos de combustíveis gaúchos ainda concentram mais um item com valor elevado: o etanol. Em fevereiro, o preço médio do litro foi de R$ 4,001, o mais alto do país, segundo a ANP. Ao explicar o que eleva o valor, Silva sublinha que o Rio Grande Sul sofre por não produzir o combustível.
— Todo o etanol consumido é importado. Como o Estado fica no extremo sul do país, há maiores custos de transporte até aqui — frisa.