A conversa com Adriano Miolo corria bem, falando sobre safra recorde e produção de vinhos especiais. Até que o empresário entrou no assunto tributação e disse:
— Nosso vinho chega mais barato nas gôndolas dos supermercados da Bahia.
Acendeu a luz vermelha da coluna. Como assim? O vinho da uva colhida e engarrafado no Rio Grande do Sul é mais barato para o consumidor na Bahia? Adriano Miolo disse que sim e também nos outros locais que retiraram o vinho do mecanismo de substituição tributária, como Brasília, Goiás e, mais recentemente, Santa Catarina.
— Quando começou a cobrança do ICMS desta forma, houve um aumento de 30% no preço para o consumidor. Piorou também a competitividade do vinho nacional porque o percentual é cobrado em cima do valor de venda para o cliente, que inclui a margem de lucro. Já o ICMS pago pelo vinho que vem de fora do país incide sobre o preço de importação — explica o superintendente do Grupo Miolo.
O exemplo dado pelo executivo é o Miolo Seleção. Segundo Adriano Miolo, a garrafa custa entre R$ 28 e R$ 29 nos supermercados destes Estados. Em Porto Alegre, para onde teria um frete bem menor, chega entre R$ 34 e R$ 35 como preço normal.
A disputa de mercado com o Chile prossegue. Miolo afirma que a bebida do país é isenta de Imposto de Importação e já responde por metade do mercado nacional.
— Aliás, apenas uma em cada dez garrafas de vinho consumidas no Brasil é de fabricação nacional — complementa o empresário.
Safra espetacular
A ótima safra será usada pela Miolo para recuperar o mercado dos últimos anos. O consumo de vinhos finos cresceu 35% em três anos, mas a venda da bebida nacional caiu, deixando ainda mais espaço para os importados.
Clima seco e variação grande de temperatura garantiram aumento em quantidade e qualidade. Adriano Miolo acredita que esta será a melhor safra da década, o que permite que a vinícola produza tipos de vinhos que não fabricava há sete anos.
— Na região de Seival, tivemos dias com temperatura variando entre 9º e 32º, o que melhora maturação, a cor e o aroma das uvas — conta o executivo, que também é enólogo.
A Miolo está colhendo 6,2 milhões de quilos de uva no Rio Grande do Sul, sendo que 70% é produzido na região da Campanha. O restante fica em Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos.
Ouça entrevista com Adriano Miolo para o programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha: