Nos últimos seis meses, o preço médio do litro da gasolina subiu 17,62% nos postos de combustíveis do Rio Grande do Sul e encostou nos R$ 4,35 em janeiro. O reajuste é 10 vezes maior do que o da inflação do período, que ficou em 1,74%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em algumas cidades, não deve demorar para ser rompida a barreira dos R$ 5. O litro mais caro identificado até janeiro pela pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no Estado está em Bagé, na Fronteira, onde chegou a ser encontrado por R$ 4,89. O mais barato foi localizado em Esteio, na Região Metropolitana: R$ 3,87.
Mas é quase certo que esses preços já tenham mudado. Porque a pesquisa de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estampa a política de preços adotada pela Petrobras para o combustível desde julho do ano passado: variações que podem até ser diárias no preço da gasolina tipo A vendida às distribuidoras.
A justificativa é acompanhar as variações do dólar e do preço internacional do barril de petróleo. De acordo com cálculo do educador financeiro Adriano Severo, de posse de todos os reajustes da Petrobras desde julho, o aumento acumulado imposto pela estatal às distribuidoras foi de 30% até agora. O cálculo bate com o acompanhamento do Sindicato do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes do Estado (Sulpetro).
— A Petrobras adotou essa modulação a partir de 4 de julho, vinculou o aumento da gasolina ao dólar e ao preço internacional do barril do petróleo. Isso é diário. A verdade é que trouxe transtorno grande para todos. O consumidor não sabe mais quando sobe, não tem dia marcado, pode ser qualquer um — afirma o presidente do Sulpetro, Adão Oliveira.
Já o reajuste acumulado nas distribuidoras, que vendem para os postos de combustíveis, foi de 24,2%.
Segundo Oliveira, reuniões já ocorreram com a ANP para se buscar uma alternativa ao modelo atual. Por enquanto, nenhuma promessa de mudança está no horizonte em curto prazo. Questionado sobre reduções de preço que não seriam repassadas no mesmo ritmo aos consumidores, o presidente do Sulpetro argumenta que os postos trabalham no vermelho.
— Temos uma defasagem de R$ 0,28 no preço do litro que não se consegue repassar ao consumidor por causa da crise ao consumidor. Com o preço em que já está, não dá. Muitos postos estão trabalhando no vermelho por causa disso — argumenta.
Mas o Procon Porto Alegre questiona essa argumentação. Isso por que também ocorrem reduções no preço da gasolina vendida pela Petrobras. Em novembro, o órgão encaminhou "Processo Administrativo de Investigação Preliminar" às cinco distribuidoras de combustíveis autorizadas pela ANP para atuar no Rio Grande do Sul. O objetivo é identificar por que as reduções não chegam aos consumidores no mesmo ritmo.
— Os postos argumentam que as distribuidoras não repassam as eventuais reduções. Notificamos vários postos para apresentarem suas notas fiscais. Notificamos também as distribuidoras e a própria Petrobras. Ainda estamos aguardando essas repostas, o processo administrativo é mais longo. Mas ainda no primeiro semestre, queremos divulgar a margem de lucro dos postos de combustíveis — projeta a diretora-executiva do Procon Porto Alegre, Sophia Vial.
Combustível não é o único a aumentar
É covardia comparar o percentual de 17,62% de aumento no preço médio do litro da gasolina no Rio Grande do Sul com a inflação acumulada nesses mesmos sete meses: 1,74%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que fechou 2017 em 2,95%. Esse índice, abaixo do que previa o governo federal, teve como herói o preço dos alimentos, com deflação, segundo o Banco Central de 4,85% no ano passado.
Mas a gasolina não foi a única vilã do bolso dos consumidores gaúchos: o botijão de gás de cozinha subiu em média 13,39% de julho até janeiro. Em dezembro passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou o reajuste anual nas tarifas de energia da CEEE, que ficou em 29,29% para os consumidores residenciais e de 33,54% às indústrias. Energia e combustíveis foram os responsáveis por não se sentir tanto o efeito da inflação baixa de 2017. E, na semana passada, outra surpresa pesada para o bolso de quem usa o transporte público na Região Metropolitana de Porto Alegre: reajuste de 94% na tarifa da Trensurb, que foi de R$ 1,70 a R$ 3,30.