O ápice do polo naval espalhou sotaques pelas ruas de Rio Grande e municípios vizinhos. Vindos de Angra dos Reis (RJ), Luís Carlos Toledo Silva, 54 anos, e Gerson de Caldas, 57, apostaram no cenário de emprego farto de 2013. Foram contratados à época pela Ecovix, mas não ficaram imunes às séries de demissões nos anos seguintes. Hoje, circulam pela cidade em busca de vagas de trabalho.
Pouco antes do meio-dia da última terça-feira, ao lado do edifício do Sistema Nacional de Emprego (Sine), no Centro, os dois conversavam com outros três homens que deixaram o Rio de Janeiro para tentar a sorte no polo naval. O grupo havia passado a noite em uma calçada próxima ao prédio para garantir a participação em um processo seletivo.
– Vim para Rio Grande após um amigo fazer propaganda daqui. Antes, já tinha atuado na indústria naval – lembra Silva, que trouxe consigo a mulher e os dois filhos.
Mesmo sem encontrar emprego há um ano, o trabalhador pretende seguir na cidade. Caldas pensa da mesma forma. Também deseja permanecer em Rio Grande apesar de estar procurando ocupação formal há 14 meses. No município, conheceu sua atual companheira, com quem tem uma filha.
– Estou há cinco anos sem ir ao Rio e ver minha mãe – lamenta Caldas. – Voltar é difícil. Minha parceira vive aqui. É gaúcha.
O período de abundância no polo também atraiu um empresário paranaense que rodou por Estados como Santa Catarina e Maranhão e viveu em países como Alemanha. Em 2014, Gustavo Rodenheber, 34 anos, abriu o restaurante Casa Europa Gastrobar em busca de faturamento farto com a movimentação na cidade. Logo após a inauguração, assistiu à onda de demissões nos estaleiros.
– Na época, meu pai e meu irmão trabalhavam na Ecovix. Então, decidi vir para cá. Quando inauguramos o restaurante, todos ficaram apavorados. Por três meses, não entrava uma viva alma aqui. Mas, depois, começou a vir muito público de fora – recorda.
Hoje, gera oito empregos. Na visão de Rodenheber, os últimos anos deixaram lições para parte dos empresários locais:
– No auge do polo, quase todos que abriram negócios ganharam dinheiro. Com a crise, quem não tinha tanta especialização foi atingido e teve de buscar por isso.