Após o expediente do dia 22 de fevereiro, Peterson Fonseca da Conceição, 24 anos, preparava-se para deixar o estaleiro EBR, em São José do Norte, onde vive com a companheira e seus dois filhos. Ao tentar bater o ponto na saída, deparou com uma surpresa.
O sistema eletrônico não reconhecia seu crachá. Em seguida, o trabalhador, que exercia o cargo de ajudante havia um ano e três meses, rumou para o departamento de Recursos Humanos. Lá, recebeu o aviso de que não precisaria retornar no dia seguinte. A demissão ocorreu porque os trabalhos na P-74 – a última a sair do polo naval gaúcho – estavam concluídos.
— Foi triste saber que não há, neste momento, nada previsto para o estaleiro — resume Conceição, que na última quarta-feira foi ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Rio Grande e São José do Norte para homologar o desligamento.
Ao deixar o Estado, em 23 de fevereiro, a P-74 partiu para a Bacia de Santos (SP), conforme a Petrobras. A conclusão deveria despertar comemorações em São José do Norte, mas acabou aumentando a agonia na cidade. No curto prazo, não há confirmação de novas encomendas. E a carência de negócios deve se refletir nos cofres do município. A cada mês, a perda prevista só em Imposto sobre Serviços é de R$ 400 mil, sublinha a prefeita Fabiany Zogbi Roig (PSB):
– Não temos nada de concreto agora. Mas há perspectiva de que módulos possam ser construídos no EBR no segundo semestre.
Conforme a Petrobras, a mudança no seu plano de negócios, que até a eclosão da Lava-Jato privilegiava a indústria nacional, foi motivada porque o desempenho alcançado pelos estaleiros “ficou aquém do necessário para que a estratégia fosse bem-sucedida, tendo sido necessário buscar soluções alternativas”. Na definição dos novos projetos, a “estratégia de contratação será analisada caso a caso, em função da economicidade, incluindo avaliação do local de execução”.