Na contramão da agenda positiva do governo federal, dados divulgados nesta quarta-feira (29) mostram que a taxa de desemprego voltou a subir na Grande Porto Alegre e atingiu, em outubro, o pior índice do ano: 12% entre a População Economicamente Ativa (PEA). No mês anterior, a taxa havia sido de 10,3%, a menor de 2017.
Conforme a Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA), esse crescimento representa 29 mil desempregados a mais do que em setembro. Dessa forma, o total de pessoas desocupadas chega a 222 mil.
Em relação aos setores de atividade econômica analisados, houve redução nos serviços (-26 mil ocupados ou -2,9%), na indústria de transformação (-16 mil ou -5,3%) e no comércio e reparação de veículos (-7 mil ou -2,1%). O único setor que apresentou aumento foi o da construção, com 4 mil ocupados a mais, alta de 3,2%.
Para a coordenadora da PED-RMPA, Iracema Castelo Branco, os empregos no ramo da construção são mais sazonais, suscetíveis ao maior ou menor número de obras em andamento no período. Além disso, são ocupações normalmente autônomas, por isso, não seguem a mesma lógica geral do emprego formal. A economista, entretanto, se disse "surpresa" com o resultado do aumento na taxa de desemprego de outubro, já que outros dados do país demonstravam uma leve melhora na economia.
— Primeiro, entendemos que a retomada da economia ainda é muito lenta, pequena e por isso ainda não foi capaz de influenciar significativamente a geração de empregos — pontuou Iracema.
No entanto, a principal hipótese da economista é a de que a reforma trabalhista aprovada pelo governo Temer posse ter surtido efeito antes mesmo de entrar em vigor, em 11 de novembro.
— Nossa hipótese é de que o mercado de trabalho já está fazendo um ajuste. Acreditamos que os empregadores podem estar demitindo para contratar trabalhadores já a partir das novas regras — afirmou a coordenadora da pesquisa.
Um dos argumentos que reforça a ligação do aumento de desempregados às mudanças na legislação trabalhista, é que, em outubro do ano passado, ainda em plena recessão econômica, a taxa de desemprego era de 10,8%. A diferença percentual significa 13 mil desempregados a mais nos últimos 12 meses.
Diretor-presidente da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), Gilberto Baldasso chamou a atenção para a falta de qualificação da mão de obra. Segundo ele, os governos federal e estadual não têm investido nisso e, com isso, os empregos acabam tendo alta rotatividade, porque não há especialização.
— Para mudarmos esse cenário de altas e baixas, precisamos investir em qualificação e, mais do que isso, em qualificação especifica para cada região. Não adianta oferecer curso para um local que não tem como absorver aquela mão de obra — reforçou Baldasso.
Realizada há mais de 25 anos, de forma ininterrupta, a PED-RPMA é fruto de um convênio envolvendo a Fundação de Economia e Estatística (FEE), o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e a FGTAS. Com a possibilidade de fechamento da FEE, a pesquisa corre risco de ser encerrada.