Mesmo com a recessão, estrangeiros que trabalham no Brasil aumentaram a remessa de dinheiro para a família no Exterior. De janeiro a junho, transferências pessoais para países como Bolívia, China e Haiti somaram US$ 935,7 milhões, 74% mais que o registrado no ano anterior e o maior valor da série histórica para o primeiro semestre.
Além das nações com imigrantes que tentam a vida no Brasil, o envio de dinheiro para os Estados Unidos também aumentou com americanos a trabalho no país e pais brasileiros que mantêm filhos estudando nos EUA.
A economia brasileira ainda é receptora de remessas internacionais. Isso quer dizer que a entrada de dólares enviados por brasileiros que vivem no Exterior é maior que o enviado por estrangeiros no Brasil. Essa distância, porém, está diminuindo. A mudança acontece basicamente porque as remessas para o Exterior cresceram com força nos últimos anos, na esteira da chegada de imigrantes.
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Dados do Banco Central mostram que as transferências para a Bolívia, por exemplo, saltaram 89,4% no primeiro semestre na comparação com igual período de 2016, para US$ 62,7 milhões.
O dinheiro é enviado especialmente pelos trabalhadores do setor têxtil que mudam para o Brasil atrás de salários maiores que os pagos no país vizinho. Estimativas conservadoras citam que, só na capital paulista, viveriam mais de 50 mil bolivianos.
Outros países registram o mesmo fenômeno. Para a China, os volumes transferidos cresceram 89% e somaram US$ 44,5 milhões no primeiro semestre. As remessas tiveram alta de 61,5% e atingiram US$ 23,9 milhões para o Peru e avançaram 12,2%, para US$ 37,8 milhões, no caso do Haiti.
Além de sinalizar a forte alta recente, os dados do Banco Central indicam que a capacidade de envio de dinheiro dos estrangeiros é um fenômeno bem recente.
Nos seis primeiros meses de 2010, não houve remessa de dinheiro para o Haiti – atualmente o quinto principal destino. Para a Bolívia, as transferências naquele semestre somaram apenas US$ 4 milhões, ou 6% do registrado em 2017.
A mãe ou a mulher são o destinatário preferencial dessas transferências, explica a gerente de produto da corretora Ourominas, Renata Faria.
– Como muitos desses trabalhadores deixam a família, acabam mandando dinheiro todo mês para a mãe ou a mulher manterem a casa – diz a gerente da corretora que atende especialmente haitianos e bolivianos no centro de São Paulo.
Só para o Haiti, a corretora realiza 7 mil transferências de dinheiro por mês.
Informalidade
Em média, cada imigrante haitiano e boliviano manda mensalmente de US$ 200 a US$ 300 – de R$ 620 a R$ 940.
– A maioria deles trabalha informalmente no comércio vendendo capas e acessórios de celular. Outros conseguem trabalhar em empresas terceirizadas de limpeza – diz Renata Faria.
Quem trabalha informalmente, nota a gerente, chega a fazer mais de uma remessa por mês, à medida que consegue acumular reais. Algumas vezes, são pequenas operações de US$ 50.
Operações como as feitas pelos grandes serviços de transferência, como Western Union e Moneygram, são concluídas rapidamente e o destinatário pode pegar o dinheiro minutos depois no Exterior.
– Isso acaba sendo um chamariz para os bolivianos, que são muito cautelosos. Muitos concluem a transferência no guichê, enviam uma mensagem ao destinatário e ficam dentro das nossas lojas esperando que o parente receba o dinheiro. Só depois de conferir tudo lá no Exterior é que deixam a loja – diz a gerente da Ourominas.