Frustrado com o placar da aprovação da reforma trabalhista na Câmara, o Palácio do Planalto quer enquadrar os indisciplinados e garantir que deputados fiéis não mudem de lado na PEC da Previdência. Cortes de cargos, liberação de emendas, reforço na publicidade e reuniões com os rebeldes compõem a estratégia que será intensificada na próxima semana. A articulação tornou-se a prioridade absoluta na agenda do presidente Michel Temer.
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No cronograma idealizado pelo governo, ao final de maio a reforma trabalhista estará sancionada e a da Previdência aprovada, ao menos, em primeiro turno na Câmara. Contudo, os mapas iniciais confeccionados pelo núcleo político de Temer indicam que os 308 votos necessários para emplacar as mudanças nas aposentadorias ainda estão distantes, com risco de piora do cenário caso a greve geral desta sexta-feira tenha grande proporção.
– Vamos usar uma lição de Ulysses Guimarães: na política, tem de ter paciência, paciência, paciência e muita conversa – afirma o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Líderes da base já defendem deixar a votação da reforma da Previdência para o final de maio ou início de junho. Na quinta-feira, foi adiada de terça para quarta-feira o início da apreciação do tema na comissão especial. Nos bastidores, afirma-se que a proposta só irá a plenário quando o governo tiver certeza de aprovação, ou seja, contará com 330 parlamentares em seus mapas.
A dificuldade de Temer ficou explícita no resultado da reforma trabalhista na quarta-feira. Após mais de 14 horas de discussões, 296 deputados chancelaram o projeto. Foi uma vitória folgada, mas como a intenção era passar dos 308 votos, para demonstrar força política, faltaram 12 apoios.
– A cada dia está mais claro e evidente: o governo não tem votos para aprovar a reforma – diz o líder do PT, Carlos Zarattini (SP).
Na avaliação de líderes e ministros, as 39 ausências no plenário impediram o Planalto de alcançar a soma projetada. As traições também pesaram. Foram mais de 80. Dos 64 deputados do PMDB, cinco faltaram e sete se posicionaram contra o projeto. O PP, partido do líder do governo Aguinaldo Ribeiro (PB), registrou nove infiéis. O PSDB teve apenas um.
Com a lista de traições em mãos, o governo discute a dose certa das punições, para dar exemplo, mas não criar antipatia na base. A primeira medida será chamar os rebeldes para conversas em grupo ou individuais. Vale o mesmo para quem foi fiel na quarta, mas indica rebeldia futura. Serão detalhadas cada mudança na proposta original da PEC da Previdência. Na Esplanada, ministros receberam a ordem de cancelar viagens para atender parlamentares e, todos que são deputados, serão exonerados. Temer também deve oferecer novos cafés e jantares às bancadas.
O PTN, que levou a presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), está na mira. Dos 13 deputados, 12 votaram na quarta, sendo cinco contra a reforma. Já o PSB, rachou. Teve 16 votos contrários e 14 favoráveis a reforma trabalhista, números considerados razoáveis pelo Planalto, a partir da articulação do ministro Fernando Coelho (Minas e Energia) e de seu pai, o senador Fernando Bezerra (PE). A bancada receberá atenção especial de Temer, mas não está descartada a retirada do partido de cargos de segundo e terceiro escalão.
– Se participa com cargos, deve estar com o governo na festa e na tristeza – diz um aliado de Temer.
O Planalto detectou risco de debandada em bancadas que tiveram maiorias expressivas a favor das mudanças na legislação trabalhista. PSD, PRB e PR preocupam. Sigla do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), o DEM entregou ao governo os 29 votos da bancada na quarta, mas projeta dissidências na Previdência, em razão da pressão nas bases eleitorais contra a reforma.
É corriqueiro o discurso de apoio a questão trabalhista e de veto à previdenciária. São os casos, por exemplo, dos gaúchos Jerônimo Goergen (PP) e Danrlei (PSD).
– Como os militares ficaram de fora da reforma da Previdência, voto não. Só aprovaria se fosse uma reforma para todos os brasileiros – justifica Danrlei.
Resistência de Renan preocupa
Confiante em vitória da reforma trabalhista no Senado ao longo de maio, o Planalto terá de enfrentar a oposição do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL). Nesta quinta-feira, o senador voltou a criticar as ações do presidente Michel Temer e assegurou que o projeto será aprovado com alterações, o que exigiria seu retorno à Câmara, atrasando o cronograma do governo.
– Ela (a reforma) rebaixa os salários. Isso é a consequência mais imediata e perversa. Pretende deixar o trabalhador sem defesa, condenado a aceitar acordos que reduzem a remuneração, suprimem reajustes e revogam garantias no emprego – discursou Renan no plenário.
No Planalto, a tarefa para neutralizar o alagoano foi conferida a Romero Jucá (PMDB-RR). Líder do governo no Senado, ele articula para deixar o colega isolado, com o apoio de cinco dos 22 integrantes da bancada do PMDB. Com outros partidos, Jucá discute a indicação de um relator que resista à pressão de categorias e não mude o texto da reforma trabalhista.
Na quinta-feira, o plenário teve críticas de petistas e elogios da base de Temer ao projeto. Líder do PSDB, Paulo Bauer (SC) sugeriu apresentar requerimento de urgência para a reforma. Assim, a matéria não precisaria passar por comissões, tendo condições de ser aprovada no plenário em, no máximo, duas semanas.
– Não vejo motivo para postergar. Há votos para aprovar o projeto – destacou.
O Planalto simpatiza com a ideia, mas teve de adiar a discussão do assunto com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Ele teve um desmaio e precisou ser internado na UTI de um hospital em Brasília. Caso o peemedebista não possa trabalhar na próxima semana, as sessões serão comandadas pelo tucano Cássio Cunha Lima (PB).