O desafio de moldar o mercado de trabalho do futuro – quando o país terá mais pessoas com rugas e uma proporção menor de gente com espinhas – será das empresas e de quem busca colocação. Ter tarefas feitas à distância, oferecer diferentes pacotes de benefícios de acordo com a faixa etária dos colaboradores e criar formas de amenizar choques entre as diferentes gerações são alguns pontos cada vez mais discutidos em seminários e congressos da área, diz Wolnei Tadeu Ferreira, diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).
– As pessoas mais maduras devem ser consideradas, porque têm conhecimento e bagagem cultural valiosa. Podem passar a ser instrutores, multiplicadores de conhecimento. Podem não ter o mesmo vigor e vitalidade, suportarem cargas horárias elevadas, mas podem fazer as tarefas com mais habilidade – diz Ferreira.
Pesquisador da área de mercado de trabalho, Bruno Ottoni, da Fundação Getulio Vargas (FGV), entende que as empresas serão forçadas a investirem mais em reciclagem e requalificação dos seus quadros. A atualização será chave para que se mantenham produtivos e competitivos.
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– As empresas terão de entender que pessoas com experiência têm valor no mercado de trabalho – afirma Ottoni.
O sociólogo José Pastore, da Universidade de São Paulo (USP), observa que, com a queda da taxa de natalidade, uma proporção menor de jovens no ingresso do mercado de trabalho deve ajudar um pouco a aliviar a concorrência com os mais idosos (que permanecerão mais tempo ocupando seus espaços), mas o ritmo das mudanças tecnológicas vai lançar um desafio para toda a sociedade.
– Se o país não oferecer educação de qualidade, essas pessoas depois não terão condições de se ajustarem nessa transição – alerta Pastore, lembrando que diversos estudos sugerem que, nas próximas décadas, várias profissões podem ser extintas.
Pelo lado do trabalhador, as necessidades serão semelhantes: se reciclar, estudar, manter-se capacitado e atualizado para não ser engolido pela evolução tecnológica.
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Se o futuro do trabalho é uma incógnita, o presente já é desafiador. Com a percepção de quem depara todos os dias com um grande números de pessoas procurando emprego, a gerente do Sine de Porto Alegre, Ângela Oetinger, diz notar um quadro mais preocupante para os candidatos grisalhos.
– O que vemos é que as pessoas mais velhas são demitidas para a contratação de jovens. E depois essas pessoas têm uma inserção mais difícil no mercado – relata Ângela.
Quando conseguem, diz a gerente do Sine, é por um salário mais baixo, com consequente queda no nível de vida e menor contribuição para a Previdência.
Dados do IBGE indicam que, no ano passado, os idosos – com 60 anos ou mais – representavam 14,3% da população brasileira. As projeções apontam que, em 2039, serão quase um quarto dos habitantes do país.