Em outros tempos, o discurso - e a prática - do quanto pior melhor era monopólio da oposição. Menos por falta de concorrência do que por domínio de mercado, a situação mudou. Primeiro, onde a crise acumulava mais tempo de incubação, aqui na porteira do Rio Grande. No lugar do discurso motivador de "está difícil, mas vamos encontrar uma forma de resolver", os gaúchos foram vacinados com doses cavalares de pessimismo. O resultado está na desolação e na sensação de desproteção que provoca nas cenas de teste aos limites da lei - dos dois lados.
Há um mês, a economista Mônica de Bolle escrevia, em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo: "se o Brasil não conseguir desatar as amarras da crise política, (...) eliminar os problemas estruturais (...) viveremos o efeito chimarrão. O Brasil será o Rio Grande do Sul amanhã."
Parece que, para evitar o mesmo destino, o governo federal adotou a estratégia do quanto pior, melhor para convencer de que a solução passa por "remédio amargo", como disse ontem a presidente Dilma Rousseff no pronunciamento em que admitiu a possibilidade de "erros".
Entre os amargores examinados, os mais prováveis são aumentos de alíquotas que não precisam passar pelo Congresso, como Cide, que incide sobre a gasolina, IPI e IOF. Até a criação de uma alíquota extra de Imposto de Renda para os mais ricos, de 35%, estaria sobre a mesa.
Remédio amargo, para consumidores e contribuintes, tem sempre a mesma receita: alta de impostos. Seja na apresentação "redentora", a única que representa solução estrutural às contas públicas do Rio Grande do Sul, seja na formulação "transitória", como Brasília agora tenta evitar o déficit previsto no orçamento de 2016.