Condições do tempo, escalações de futebol e reviravoltas políticas, em geral, dominam as rodas de conversa em paradas de ônibus, filas de banco e mesas de padaria. Em São José do Norte, no sul do Estado, os três assuntos foram substituídos por um só: o Estaleiro Brasil (EBR).
Previsto para ter sua construção iniciada nas primeiras semanas de fevereiro, o investimento bilionário é a principal pauta da cidade. Nesta quarta-feira, foi entregue ao governo estadual o estudo de avaliação de impacto regional do empreendimento. Desenvolvido pela consultoria M. Stortti, o levantamento recomenda a elaboração de um plano de implantação de infraestrutura básica (energia, água e esgoto), incentivo à regularização fundiária e execução de programas de qualificação de mão de obra. Um plano urbanístico e melhorias nos acessos hidroviário e rodoviário também são necessidades, assim como melhorar o transporte coletivo.
Como oportunidades, o estudo aponta que o investimento pode promover uma economia equilibrada, diversificada, moderna e dinâmica em quatro eixos: novas oportunidades econômicas em pesca comercial, no turismo, cultura e indústria criativa, em energia eólica e tecnologias verdes e em resíduo zero e indústria de tecnologias limpas. O levantamento incluiu, além de São José do Norte, oito municípios do entorno.
Na cidade, há cidadãos otimistas, que aguardam a chegada de forasteiros para movimentar um município que quase parou no tempo, e pessimistas, que acreditam não estar prontos para receber o estabelecimento ou que a indústria naval prejudique a pesca, uma das principais atividades econômicas da localidade de 25 mil habitantes.
O pescador Marcelo Lemos aguarda as poucas semanas que ainda impedem a safra do camarão - o crustáceo só pode ser capturado a partir de 1º de fevereiro - e está otimista com a chegada do EBR. Ainda não tem intenção de mudar de ramo, mas avalia que a implantação do empreendimento vai "melhorar 100% a vida dos nortenses".
Mário Antônio Souza Júnior está trabalhando como pedreiro na recuperação de uma residência próxima ao porto. O lugar deverá ser usado para aluguel, tanto comercial quanto residencial. Sua ideia é seguir no ramo da construção civil, mas em outra frente. Pretende fazer cursos e se aperfeiçoar para ingressar na indústria naval:
- Estou ansioso para que eles cheguem. Nós vivemos só da cebola e da pesca. Esse estaleiro vai mudar a nossa vida. Acho que para melhor.
O empreendimento
R$ 1,2 bilhão em investimentos
Em fevereiro, devem começar as obras da estrutura
Montagem de duas plataformas do tipo FPSO (unidade flutuante de armazenamento e transferência), a P-74 e a P-76, avaliadas em US$ 1,4 bilhão ( R$ 3 bilhões)
4 mil empregos diretos devem ser criados no pico da atividade
1,5 milhão de metros quadrados de área construída (cerca de três vezes maior do que o estaleiro de Rio Grande)
Ciclo de produção deve se completar em 2014