A pujança da produção agrícola brasileira tem capacidade para ser motor da chamada neoindustrialização nacional. O tema foi um dos principais tópicos abordados durante o último Campo em Debate da temporada na Expointer 2023, na manhã desta quinta-feira (31). Mediado pela jornalista Giane Guerra, o painel na Casa da RBS reuniu representantes do setor fabril e do governo brasileiro.
Para o secretário adjunto de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços Felipe Machado, representando o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, a situação da indústria no Brasil é "dramática". Segundo ele, o país passa por um processo de desindustrialização precoce, com desenvolvimento bastante inferior ao esperado nas últimas quatro décadas.
Como "nem tudo são más notícias", diz Machado, a potência da área agrícola conquistada nos últimos anos é capaz de puxar a indústria nacional para que ela seja retomada e, inclusive, para gerar mais empregos.
O peso da cadeia de máquinas agrícolas dentro da indústria, aliás, foi destacado pelo presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do RS (Simers), Cláudio Bier. O dirigente lembrou que os maquinários voltados ao campo estão evoluindo muito rapidamente. Isso demonstra que as grandes fabricantes já reservam parte dos seus faturamentos para a inovação.
As colheitadeiras, por exemplo, hoje conseguem colher seis vezes mais do que 10 anos atrás. Além disso, ao colher, mapeiam a lavoura do produtor e geram um segundo dado de inovação. Para Bier, a indústria do Brasil não fica atrás das estrangeiras do ramo, e a produção nacional tem ganhado espaço com fabricações cada vez mais voltadas à sustentabilidade.
Milton Fornazieri, secretário de Abastecimento, Cooperativismo e Soberania Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, representando o ministro Paulo Teixeira, falou que a máquina empodera o produtor rural dentro das propriedades, e que proporcionar o acesso a elas é fundamental para o desenvolvimento. O relançamento do Mais Alimentos, junto ao Plano Safra, tem justamente o objetivo de fazer com que esses implementos cheguem a mais agricultores.
Para o secretário, vender produtos industrializados com maior valor agregado e inserir a agricultura familiar faz neste ciclo é fundamental. Aqui, o papel do governo passa por proporcionar que o produtor tenha acesso a equipamentos adequados para este salto.
O deputado federal Heitor Schuch (PSB-RS), presidente da comissão de indústria, comércio e serviços da Câmara dos Deputados, lembrou que os temas como bionsumos, biofertilizantes, inovação e descarbonização já ditam a lógica mundial e, portanto, apostar nestas indústrias é um caminho para a neoindustrialização. Na visão do parlamentar, é preciso fortalecer os elos da cadeia produtiva em diversos setores para que se avence na exportação de produtos industrializados. Aliando o agrário ao industrial, Schuch defende que o Brasil precisa buscar soberania para além de ser apenas exportador de matéria primas.
A indústria de semicondutores, que tem no Rio Grande do Sul importantes polos de desenvolvimento, tem a possibilidade de incluir inovação em diversas frentes, inclusive no agronegócio. Luis Felipe Maldaner, professor da pós-graduação da Unisinos, citou feitos da indústria 4.0 que já são vistos na conectividade e na internet das coisas embarcadas nas máquinas agrícolas. A soberania, porém, está restrita a países que apostaram no desenvolvimento dessas soluções.
Para o professor, o Brasil ainda precisa avançar em questões básicas, como o próprio financiamento e os investimentos, que possam fazem avançar a neoindustrialização nas cadeias produtivas.
Também participaram do debate o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, o deputado estadual e presidente da frente parlamentar da agropecuária na Assembleia Legislativa gaúcha, Elton Weber (PSB), o coordenador de política agrícola da Fetag-RS, Kalinton Prestes, e Fabiana Villa Alves, diretora de cadeias produtivas e agregação de valor do Ministério da Agricultura. Para os painelistas, a mecanização do campo é elemento importante para que a tecnologia seja vista como oportunidade de desenvolvimento não só industrial, mas também da produção rural brasileira.