A força da agricultura familiar no país e os principais pontos que precisam de ação para qualificar e amplificar esse segmento foram os temais centrais do Campo em Debate da tarde desta quarta-feira (30) na Expointer. Especialistas ligados ao agronegócio e ao empreendedorismo discutiram temas como tecnologia, inovação, gestão e marketing na Casa RBS, no Parque de Exposições Assis Brasil. O painel foi realizado em uma parceria entre Grupo RBS e Fiat.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, destacou o crescimento da agricultura familiar nos últimos anos, em especial no âmbito de organização, produção e tecnologia. Ele salientou o avanço da mecanização nas propriedades, que aumentou a produtividade, reduziu perdas, criou novos estilos de plantio e gerou mais competitividade aos trabalhadores do campo. O dirigente também reforçou o papel desse modelo de negócio na sustentabilidade.
Silva avaliou que uma das principais diferenças entre o agricultor familiar e o grande empresário é o fato de um deles estar mais ligado ao local de onde tira o sustento:
— O agricultor familiar trabalha e mora na propriedade. Ele precisa cuidar do meio ambiente, da água, ter acesso facilitado, energia de qualidade, internet e telefone na área.
Ao falar dos percalços do segmento, o presidente da Fetag-RS citou a necessidade de aumentar a conectividade nas localidades rurais, permitindo o desenvolvimento dos negócios com a incorporação de tecnologia e inovação. Silva também citou a importância de facilitar o acesso a pesquisas e assistência técnica.
O secretário de Desenvolvimento Rural do RS, Ronaldo Santini, afirmou que a pasta foi recriada com um olhar mais voltado para o desenvolvimento, “porque o rural acontece por si só”, com o trabalho e empreendedorismo dos integrantes do setor. Santini disse que um dos focos é aumentar a produtividade:
— O nosso objetivo é fazer com que ele retire 400%, 500%, 600% da propriedade como um todo. Com transversalidade de culturas, agroindustrialização do produto. Gradativamente ir promovendo uma grande oportunidade de renda para a família e de agregar valor à propriedade.
Santini destacou que aumentar o protagonismo das mulheres nesses negócios e despertar nos jovens o empreendedorismo e a vontade de seguir nas propriedades rurais também estão entre os principais objetivos nessa linha de desenvolvimento.
André Bordignon, analista de Competitividade Setorial de Agronegócio do Sebrae-RS, afirmou que a entidade atua para levar conhecimento e profissionalismo ao produtor, que é um empreendedor rural. O analista ressaltou que o Sebrae-RS também tem o papel de facilitar o acesso a mercados, com diversas estratégias. Uma dessas ferramentas é a indicação geográfica, reforçando os atributos e qualidades de um produto com identidade regional:
— A gente trabalha o desenvolvimento territorial por meio de um produto, que é reconhecido, que tem um saber fazer local, de um item único, que destaca todo o território e pode trazer o turismo em conjunto.
O professor, doutor e sócio-diretor da Biomarketing José Luiz Tejon, que leva o título de Personalidade Agro 2023, avaliou que a agricultura familiar brasileira tem que deixar de lado a imagem de patinho feio, que vende seus produtos em troca de uma espécie de favor. Tejon argumentou que os consumidores gostam de itens com origem familiar e o segmento deve aproveitar esse desejo para reforçar o marketing dos produtos e expandir o mercado:
— O consumidor do planeta deseja natureza, valoriza comprar de pequenos e o nome mais querido do planeta Terra chama-se famílias agrícolas.
Esse marketing tem de ser reforçado com especialidade, identificação, personalidade, embalagens mais claras e gestão, segundo o professor. Tejon arrancou aplausos da plateia ao afirmar que mulheres vendem mais e passam credibilidade nessa relação de consumo. Em seguida, reforçou a importância do marketing:
— Marketing é o que? Você chega no cérebro através do coração. Se não conquista o coração, esquece o cérebro.
Também subiram ao palco do Campo em Debate alguns empreendedores da agricultura familiar. Fabiane Kuhn, CEO e cofundadora da Raks Tecnologia Agrícola, mostrou produtos da empresa, focada no manejo inteligente da irrigação. Alana Foresti, enóloga da Vinhos Foresti, contou um pouco da história do negócio da família. Sócio-proprietário da agroindústria Estrelat, Roberto Oliveira, apresentou a trajetória da empresa e a criação de um doce de leite feito com leite tipo A, um dos novos itens do portfólio da agroindústria. Já Márcio Gonçalves, proprietário da Federal Agro, mostrou um vaso que reduz o desperdício de água e nutrientes e é uma alternativa para enfrentar a falta de chuva e a oscilação dos preços de insumos. O Campo em Debate foi mediado pela colunista Gisele Loeblein.