Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de outubro mostram que o nível de desemprego no Brasil chegou aos 14,4% – ou 13,8 milhões de pessoas, o pior resultado desde que a pesquisa foi iniciada, em 2012. A crise econômica gerada pelo coronavírus tem influência direta nesta taxa. Mas, entre os que precisaram ficar em casa sem emprego ou viram suas fontes de renda secar, alguns resolveram colocar a mão na massa, literalmente. E com pouco ou nenhum dinheiro para investir, transformaram seus lares nos locais de trabalho.
Foi assim que Lizandra Costa Canarim, 48 anos, e o marido, Roberto Canarim, 47 anos, encontraram um novo caminho. A principal fonte de renda deles, um táxi que opera na região do aeroporto da Capital, teve queda no faturamento superior aos 90% com a redução drástica dos voos, outro efeito da pandemia. Isolados em casa pela quarentena, uniram o gosto pela cozinha com o interesse pelas redes sociais. No rigoroso frio do inverno, lançaram a ideia na internet, oferecendo sopas, canjas, cremes e caldos. Os clientes começaram a aparecer e logo os moradores do bairro Floresta viram que a empreitada tinha sido certeira.
– A demanda foi aumentando e, com o inverno passando, começamos a oferecer outras opções também – conta Lizandra.
Com o aumento da demanda, as entregas feitas pelo próprio casal logo tiveram que aderir também a um aplicativo de delivery. Lá, eles montaram uma espécie de restaurante virtual.
Divulgação pelas redes
Além das opções tradicionais vindas desde o lançamento, agora também são oferecidos feijão e lentilha, nas opções normal e vegano, além de carnes e molhos:
– A cozinha é uma paixão do meu marido, é algo que ele faz com gosto. Então, casou perfeitamente para nós.
A divulgação nas redes sociais teve efeito. Foi por lá que o casal de aposentados Renato e Moema Russowski, ambos com 69 anos, descobriu as “delícias artesanais” produzidas por Lizandra e Roberto.
– Foi por acaso, estávamos pedindo de locais diferentes para provar. Encontramos a Lizandra e, desde então, nos tornamos clientes – conta Renato.
Pães e lasanhas, que tal?
O aperto financeiro também foi o que fez o cozinheiro Francisco Lima, 35 anos, partir para a fabricação de pães em casa. Morador de São Paulo, mas com uma namorada gaúcha, ele trabalha há 15 anos com a culinária vegana. Na capital paulista, além de dar treinamentos e oficinas, Pekeno, como é conhecido, estava participando de muitos eventos. Com a pandemia, o cenário mudou. Ele acabou vindo morar na Capital e sem a renda, iniciou a venda de pães de fermentação natural. Ele diz que o negócio ainda “está começando”. Mas a demanda de pedidos via WhatsApp já é grande.
– Desde março intensifiquei os estudos com a fermentação natural e começamos as vendas. Estou gostando muito dos resultados – comemora ele.
Foi o mesmo anseio que teve a jovem Nicole Masagão Figueira, 16 anos, moradora da Restinga, na Zona Sul. Seus pais, Márcio e Alessandra, ambos com 42 anos, trabalham de forma autônoma. Com a pandemia, a renda diminuiu. E a menina resolveu apostar em uma saída para ter renda e também ajudar em casa.
O caminho escolhido inicialmente foi o de esfirras e empadas. Mas, logo Nicole firmou terreno na área das lasanhas. Agora, o sucesso na Tinga já faz a menina pensar no negócio como algo definitivo. Os pais se orgulham.
– Ela nos ajudava com nossos trabalhos de design gráfico, estamparia e impressões. Agora, nós é que ajudamos ela algumas vezes – diverte-se a mãe de Nicole, Alessandra.
Fazer o que gosta é essencial
No momento de ansiedade para buscar uma fonte de renda, é normal partir para uma área visando somente o retorno financeiro. Mas, conforme a professora da Universidade Feevale Margareth Aparecida Moraes, fazer algo que se gosta é essencial. Ela reforça, ainda, que definir bem o produto é importante antes de começar.
Além disso, questões como conhecer a concorrência, os tipos de clientes, o público-alvo e o quanto aquele produto tem de procura são pontos essenciais.
Para não ficar no vermelho, é necessário somar os custos fixos, como aluguel, luz, água e mão de obra, e os custos variáveis, como a matéria-prima. Nessa conta, inclui-se o lucro desejado.
Participe do curso
- /// No próximo dia 23 de novembro, das 19h às 21h, a Feevale oferece um curso gratuito sobre “Custos e Preço de Venda”.
- /// A oficina será transmitida pela internet, basta acessar o link: feev.as/11fb14f.
- /// A Feevale também auxilia pequenos produtores. Saiba mais pelo e-mail gestaoprodutores@feevale.br.
Dicas para o seu negócio
- /// Busque algo que você gosta e quer fazer.
- /// Busque um diferencial. Uma receita só sua, um tempero exclusivo, uma entrega ágil ou um perfil bem montado nas redes sociais.
- /// Tenha presença constante em redes sociais, podendo até criar grupos de clientes no WhatsApp.
- /// Conheça a sua concorrência. Quem são, onde estão, como eles trabalham, que preços oferecem?
- /// Estruture suas formas de venda e pagamento. Redes sociais, WhatsApp, aplicativos de delivery, necessidade de máquina de cartão.
- /// Defina um público-alvo.
- /// Faça um levantamento do que precisa para produzir: matéria-prima, todos os insumos, até os mínimos detalhes.
- /// Definir a mão de obra: eu vou produzir? quanto tempo eu levo? Tudo entra na conta.
- /// Defina seus custos, assim você saberá o custo do seu produto.
- /// Então, entre com o lucro que deseja obter, para chegar ao preço de venda.
- /// Não misture gastos do negócio com gastos pessoais.
- /// Calcule em quanto tempo você deseja obter o retorno do seu investimento e inclua isso na sua planilha.
- /// Um sinalizador de que o negócio está dentro do aceitável é conseguir cobrir ao menos os custos fixos.
*Fonte: Margareth Aparecida Moraes, professora de Ciências Contábeis da Universidade Feevale.