Com perícias agendadas, beneficiários do INSS encontraram portas fechadas em nove das 15 agências que atendem as regiões Metropolitana (com exceção da Capital), Carbonífera e Litoral Norte. Por falta de servidores ou problemas estruturais, os locais permaneceram sem atendimento nesta segunda-feira (14), data prevista para retomada dos serviços presenciais.
Responsável pela administração de 10 unidades, referência para 44 municípios, o gerente-executivo da agência de Canoas, Alberto Alegre, afirma que o número de funcionários, devido a pandemia, está “no limite”. Em Gravataí, o mínimo para atender não foi alcançado, e quem buscou pelos serviços ficou na rua.
— A unidade ia abrir, mas um servidor teve gripe e tivemos que fechar — explica o gerente.
Não abriram nesta segunda as três unidades de Porto Alegre, além de Alvorada, Viamão, São Jerônimo, Esteio, Cachoeirinha e Gravataí. Com atendimento administrativo agendado pelo número 135 ou no site do INSS, operam Canoas, Guaíba, Butiá, Santo Antônio da Patrulha, Osório e Torres.
Um balanço com a situação no Rio Grande do Sul foi solicitado à assessoria de imprensa do INSS, mas os números ainda não informados.
Em Canoas, houve medição da temperatura na entrada do prédio, instalação de placas de acrílico que separam o público e os atendentes e álcool gel à disposição. Parte dos assentos foi interditada para aumentar o distanciamento entre os usuários. Os serviços prestados vão de entrega de documentação a prova de vida. Nenhuma das 60 perícias agendadas foi realizada, por desacordo entre o INSS e os peritos médicos, que reclamam da falta de estrutura para retomar a atividade.
Debaixo da chuva fina que caia pela manhã, Amaro José da Silva, 55 anos, tinha perícia agendada para as 8h. Ao lado do filho de 12 anos, chegou à unidade de Canoas antes do horário previsto. Recebeu, porém, a informação de que não haveria perícia.
— Preciso do dinheiro porque a empresa já pagou os 15 dias e estou afastado porque descolou a retina do meu olho — explicou, com o olho esquerdo fechado.
A telefonista Letícia Cunha, 39 anos, chegou de braço engessado, mas também teve de voltar para casa.
— É uma falta de respeito — reclamou.
Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP), Luiz Carlos Argolo, argumentou que há falta de segurança para a volta do trabalho.
— Algumas agências nem ar-condicionado tem. A circulação de ar é um dos pontos mais críticos. Falta ainda o monitoramento de acesso e o problema do grande fluxo de pessoas. Como manter o distanciamento? — questionou.
Argolo reforça que o trabalho dos peritos voltará a ser realizado assim que uma nova vistoria sanitária — realizada pela própria categoria — ocorrer e for constatado o que foi solicitado. Não há, porém, previsão para isso ocorrer.
— Amanhã (terça) não voltarão, pois nenhuma vistoria foi agendada — adiantou.
A superintendente Regional Sul do INSS, Káthia Maria Moreira Braga, reconhece que o número de trabalhadores foi reduzido pelos afastamentos provocados pela covid-19, e informa que casos como os vistos nesta segunda-feira, com agências fechadas, devem ser constantes nos próximos dias.
— Reabrimos sabendo que a pandemia vai exigir que trabalhemos assim. Acontece de a agência estar toda preparada pra abrir e alguém apresentar sintoma para covid, e daí não abre. Trabalhamos no limite nesse retorno — reiterou.
Laura Medina, 75 anos, precisava da prova de vida para voltar a receber a aposentadoria. Depois de alguns minutos, saiu satisfeita.
— Consegui, finalmente — disse a idosa, acompanhada do filho, em Canoas.