Impossibilitadas de atender durante a pandemia do coronavírus, os salões de beleza e as barbearias de Porto Alegre avaliam as melhores formas de oferecer segurança sanitária a funcionários e clientes antes de uma reabertura.
Medidas básicas de saneamento, como distanciamento entre os clientes, exigência do uso de máscaras de proteção por frequentadores e funcionários e ampla higienização de acessórios, são indispensáveis. No entanto, atitudes adicionais, algumas já adotadas no Exterior, podem ajudar os salões a chamar de volta a clientela quando for possível e mostrar ao poder público que podem atender minimizando riscos.
Algumas adaptações nesses estabelecimentos foram efetivadas meses atrás, quando os salões ainda tinham permissão para funcionar, ainda que com restrições - a norma mais recente da prefeitura da Capital, em vigor desde a última terça-feira (7), fechou os salões por pelo menos 15 dias.
— Além das medidas básicas exigidas pela prefeitura, reforçamos nossas equipes de limpeza, que passam todo o expediente higienizando acessórios, corrimãos, assentos e outros pontos de contato em que pode haver a transmissão do vírus — explica Leo Zamper, proprietário de dois salões da Capital que levam seu nome, um no bairro Cidade Baixa, com bar, barbearia e estúdio de tatuagem, e outro no Bom Fim, que mescla salão e estúdio de tatuagem.
Outras medidas, como instalação de fotossensores para evitar o toque nos interruptores e distanciamento maior nos horários de atendimento foram adotadas. Entre as poltronas, foi mantida uma distância de quatro metros, assegura Leo.
Luciana Botelho, diretora da Associação Brasileira dos Salões de Beleza (ABSB), avalia que a maior parte dos estabelecimentos já vinha cumprindo protocolos rigorosos de higiene e limpeza antes mesmo da pandemia. Desta forma, haveria meio caminho andado para uma reabertura segura.
— Somente os estabelecimentos que não mantinham uma rotina de precauções é que devem ter sentido agora — avalia.
O desafio é levar as melhores práticas à totalidade dos estabelecimentos, que são de diferentes portes. De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, a Capital tem 19,1 mil registros de salões de beleza e afins: 10,2 mil microempreendedores individuais (MEI), 1,5 mil microempreendedores, 5,9 mil autônomos e 127 empresas de pequeno porte.
A avaliação de Alexandre Karam, do Thippos Hair, na Rua 24 de Outubro, na Capital, é que as medidas sanitárias adotadas pelos salões na Capital vinham sendo eficientes. Ele argumenta que, enquanto apenas os salões funcionavam entre atividades não essenciais, os números da pandemia estavam sob controle.
— Acho que o problema foi na aglomeração de pessoas em outros ambientes e até em festas fechadas, que, pelo que se ouve de relatos, passaram a ocorrer com maior frequência nos últimos meses — afirma.
Ele pondera, entretanto, que toda medida adicional de segurança é bem-vinda. Na Europa, alguns estabelecimentos passaram a instalar placas de acrílico ou cortinas entre as poltronas de atendimento e as pias de lavagem de cabelo, de forma a reduzir o risco de contágio entre clientes. Outras medidas usuais no continente europeu são o uso de luz ultravioleta para eliminar o vírus no ar e a higienização completa dos salões a cada hora de uso.
Medidas para os salões reabrirem com segurança na pós-pandemia
Cumprimento rigoroso das recomendações sanitárias: Em um tipo de negócio em que o contato entre atendente e cliente é inevitável, é fundamental seguir rigorosamente todas as recomendações das autoridades sanitárias. Isso significa uso de máscara e até viseira de proteção pelos cabeleireiros, manicures e barbeiros e oferta ampla de álcool gel. Em salões que estão reabrindo na Europa, a limpeza da cadeira e dos instrumentos de trabalho se dá após cada atendimento. Em São Pulo, alguns salões reabriram com os funcionários utilizando toucas e aventais com mangas compridas.
Alteração nas escalas: Horários de trabalho e agenda de atendimento de clientes deverão ser revistos para evitar aglomerações. Isso significa dividir a equipe em períodos mais longos do dia, talvez abrindo mais cedo e fechando mais tarde os estabelecimentos. Para evitar junção de pessoas no salão ou nas salas de espera, os atendimentos deverão, necessariamente, ocorrer com hora marcada e sem acompanhantes.
Cabines de atendimento: Na Europa, alguns salões têm colocado placas de acrílico ou cortinas entre as poltronas e pias de lavagem de cabelo. O objetivo é que, mesmo com o distanciamento e as máscaras, consumidores e atendentes tenham uma barreira a mais de proteção contra o coronavírus. Alguns salões de Porto Alegre já ampliaram os espaços entre as poltronas para quatro metros de distância, o que, conforme protocolos sanitários, é considerado seguro.
Medição da temperatura de clientes: Mecanismo semelhante ao que vinham adotando os shoppings de Porto Alegre poderá ser válido para os salões. Na entrada dos clientes, a temperatura corporal de cada um seria medida com sensores a infravermelho. No caso dos funcionários, a febre seria verificada a cada turno de trabalho. Ao agendar o atendimento por telefone, a secretária do salão deverá perguntar se o cliente apresentou algum sintoma da covid-19 nos últimas dias.
Menos pontos de contato: Sistemas de acionamento automático de luzes, eliminação de corrimãos desnecessários, indisponibilidade de revistas na sala de espera e até o fim do cafezinho oferecido ao cliente. O que for feito para evitar que os frequentadores contatem objetos potencialmente infectados ou tirem a máscara será ponto a favor dos salões.
Ambientes ventilados: Com a hipótese de que o coronavírus possa se espalhar com o ar-condicionado ligado, os salões poderão preferir trabalhar com portas e janelas abertas, favorecendo a renovação do ar. Isso já vinha ocorrendo em estabelecimentos de Porto Alegre, como os salões Leo Zamper. Ambientes externos também poderão ser adaptados como locais de espera.
Colaborou: Jhully Pinto