A segunda-feira (6) foi de antecipação de agendamentos nos poucos salões de beleza e barbearias que ainda atendiam durante a manhã em Porto Alegre, um dia antes da proibição do funcionamento dos locais, por decreto municipal. A partir desta terça (7), os estabelecimentos deverão fechar por 15 dias.
A explicação pegou de surpresa uma cliente que telefonou para o espaço de beleza Simone Postal, no bairro Santana. Da recepcionista Luana de Brum, a mulher que queria agendar com uma das seis profissionais ouviu que, depois desta segunda, só há previsão de atendimento na última semana de julho — data de validade inicial do decreto que entra em vigor na terça.
— A gente fez isso durante toda a manhã: oferecia antecipar os horários da semana, conforme podemos atender. Muitos reclamam, mas fazer o quê? — questionou, de forma retórica, a atendente de 25 anos.
A empresária Simone Postal, 39 anos, investiu na ampliação do prédio. Antes da pandemia de coronavírus limitar a utilização do espaço, ela chegou a ter 18 trabalhadores, entre barbeiros, cabeleireiros, manicures e pedicures. A reforma teve de ser interrompida, com a incerteza da reabertura de sua estética.
— Muitos daqui dependem exclusivamente de nós. Uns 90% dependem só disso para viver – estima a proprietária do imóvel.
Na Rua José de Alencar e nas avenidas Getúlio Vargas e Érico Veríssimo, uma série de salões estavam fechados nesta segunda. Contatados, os proprietários confirmaram que anteciparam o que foi determinado pelo Executivo, mesmo com a possibilidade de atendimento.
Matheus Lummertz, 27 anos, seguiu essa linha. O empreendedor, que abriu a barbearia Mens Day em 2015 no bairro Menino Deus, foi ao local apenas para resolver questões administrativas.
— A gente já tem uma queda de 40% no faturamento, desde o início da pandemia. Peguei empréstimo para pagar as contas. E agora terei de dar férias para a nossa funcionária — explica, ao citar a recepcionista que tem carteira assinada — os demais são oito autônomos que prestam serviço no espaço.
De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, a Capital tem 19.113 registros no setor: 10.274 microempreendedores individuais (MEI) e 1.488 microempreendedores (ME), 5.923 autônomos e 127 empesas de pequeno porte. Há, ainda, 61 profissionais que prestam serviços variados ao ramo que será proibido e 1.240 empregados formais — como recepcionistas e atendentes, entre outros trabalhadores.
Autônoma, a manicure Deborah Gantes, 23 anos, tem no serviço a única renda para sustentar a casa e a filha de um ano. Moradora do bairro São José, na Zona Leste, a jovem define a proibição da atividade em uma palavra:
— Horrível. Preciso trabalhar. O que dizer mais? É horrível — reitera, enquanto lixava e pintava as unhas de uma senhora, no final da manhã.
Moisés Gomes, 56 anos, há três décadas no ramo, afirma que os salões prestam um serviço indispensável. Com oferta de máscaras descartáveis para os clientes que não estiverem protegidos, ele estava com a barbearia Dr. Tesoura ainda aberta nesta segunda.
— Acho que não haveria necessidade de fechar os salões, porque prestamos um serviço de higiene, com todos os protocolos seguidos — argumenta.
Levemente inclinado na cadeira, o atleta aposentado Érico Rodrigues, 81 anos, concorda com o seu barbeiro:
— Acho o fim da picada. Todo mundo está afetado com esse negócio. Imagina o que vai piorar na situação econômica, todo mundo sem dinheiro — lamenta.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o prefeito Nelson Marchezan explicou que todas as decisões são baseadas na análise dos números do avanço do vírus, refletido na ocupação dos leitos de UTI. Afirmando estar aberto a sugestões, o chefe do Executivo justificou a decisão como a única possível neste momento:
— Entendo a angústia desses trabalhadores, mas não posso aceitar a morte de pessoas. Não tenho outra alternativa a não ser essa.
A partir de terça, somente estarão autorizados a funcionar setores considerados essenciais e os expressamente permitidos pelo Artigo 13 do Decreto nº 20.625 (indústria de produtos perecíveis, óticas, lavanderias, etc). Ficam fechados, nos serviços, além de salões de beleza e barbearias, comércio e serviço de chips e aparelhos telefônicos e comércio de veículos.