Os riscos trazidos pelo coronavírus às finanças das famílias, sob ameaça de perda de emprego e renda em razão das necessárias medidas de quarentena, recomendam cautela nos gastos diários. Consultores financeiros sugerem que a população refaça do zero a planilha de controle de receitas e despesas, aumentando a meta de economia ao final do mês.
O objetivo é claro: ter dinheiro no bolso para o caso de a situação financeira se agravar.
– Mesmo quem está empregado e se sente em situação econômica segura precisa redobrar os cuidados com eventuais desperdícios. Não é momento de gastar no que não for estritamente necessário – alerta o consultor financeiro Marcelo Ferreira.
Com mais gente em casa, explica ele, a tendência é que os gastos com luz, água, supermercado e telefonia subam. Portanto, devem ser redobrados os cuidados usualmente recomendados para que se apague lâmpadas em cômodos vazios, se encurte o período do banho e se evite ar condicionado em mais de um cômodo ao mesmo tempo.
Um dos pontos particulares ao isolamento social é a preocupação das famílias com estoque de alimentos. No início da crise pandêmica no Brasil, em março, muitas pessoas estocaram grande volume de comida não perecível e itens de higiene, como sabonete e papel higiênico. É um hábito que persiste em muitas famílias, dizem analistas financeiros, mas também um erro.
– Quando se faz um estoque muito alto de alimentos, aumenta o risco de haver desperdício (por perda de validade ou dano) e também há um gasto muito alto com a conta final – afirma Ferreira.
A economista da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, afirma que é essencial que as famílias sejam reunidas para conversar sobre a nova realidade. O objetivo é que os esforços para economizar partam de todos, sem a desgastante necessidade de uma pessoa virar o "xerife" da casa.
– Todos têm que fazer a sua pequena dose de sacrifício – afirma.
Quando houver perda de emprego ou renda, o que pode ser o caso de autônomos ou trabalhadores da iniciativa privada que perderam parcial ou totalmente seus salários, será necessário readequar os padrões de consumo pessoal e familiar, ao menos momentaneamente. E não há caminho mais adequado do que voltar à planilha: anotar o que é gasto essencial, o que é conta fixa e o que é supérfluo.
– Não dá para confiar na memória. Anote o que é essencial e o que você considera que pode reduzir. E, se você vê que sobrará muito pouco após os gastos essenciais, talvez seja o caso de se perguntar se o essencial é realmente essencial ou se não dá para fazer uma nova redução – diz Patrícia.
Não é uma tarefa simples, reconhece a economista.
– Ao longo do tempo, vamos acostumando a ter mais conforto e sabemos o quanto é difícil ajustar o padrão de vida para baixo. No entanto, é necessário abrir mão de algumas comodidades que não cabem na sua renda atualmente para que isso não gere problema maior no futuro – afirma.
Seis dicas para não gastar mais do que o necessário
- Cuidado com as compras online. Pode ser tentador encomendar muitos produtos para você e seus filhos, mas a conta pode se tornar demasiada no final do mês
- Apenas em última hipótese faça compras parceladas ou tome crediário. Não é momento de gerar dívidas para os meses seguintes
- Aproveite eventuais reduções de seus gastos na rua, com restaurantes, passeios e combustível, para guardar este dinheiro para uma eventual emergência
- Não caia na armadilha de gastar demais nos supermercados para estocar alimentos, sob o risco de ver produtos vencerem nos armários e ter uma conta alta a pagar
- Reúna a família para conversar sobre como cada um poderá dar sua cota de sacrifício, reduzindo contas e controlando desperdícios no dia a dia
- Seja muito atento ao controle financeiro, anotando todas suas receitas e despesas, elencando o que é necessário e o que pode ser cortado.