Bancos e empresas de crédito têm sido receptivos a propostas de renegociação de dívidas por em meio a pandemia do coronavírus, que acarreta em desemprego e perda de renda. Analistas financeiros avaliam que possibilidades de adiamento de parcelas ou extensão de prazos podem ser de boa utilidade para os consumidores, em particular em um momento em que se recomenda ter dinheiro no bolso para lidar com imprevistos.
— Quem está com as finanças apertadas precisa entender como o seu banco como pode negociar os financiamentos que estejam em abertos — sugere João Rodrigues Gimenez, CEO da startup financeira Objetiva Consórcio.
Mirar nos financiamentos pode ser importante porque ataca contas altas, que podem abocanhar fatias generosas dos rendimentos de uma família. Via de regra, parcelas de casas e apartamentos podem drenar mais de 40% do salário de um trabalhador, considerando as regras gerais do mercado. Se a família tiver um automóvel ou o parcelamento de eletrodomésticos ou eletrônicos junto à prestação da casa, o peso pode corresponder a metade dos ganhos de uma família.
A busca pela renegociação, explica o consultor financeiro Jó Adriano da Cruz, passa pela necessidade (ou oportunidade) de adiar o pagamento de parcelas ou trocar uma dívida cara por uma mais barata, com juros menores.
— Os caminhos são dois: pleitear com o próprio banco novos prazos e valores que se encaixem dentro da realidade do novo orçamento, ou buscar a portabilidade para outro banco que ofereça condições mais amigáveis — sugere.
Especificamente sobre o adiamento de parcelas, oferecido atualmente por muitos bancos, Jó Adriano pondera que pode ser uma boa alternativa para quem não tem reserva de emergência e está sob risco de apuros caso perca o emprego. Nesse caso, o valor da parcela adiada poderia ser mantido em uma aplicação de fácil resgate.
Por outro lado, se o orçamento do consumidor estiver sob controle, com um dinheiro reservado para imprevistos e em condições de honrar suas parcelas, o adiamento das prestações deixa de ser vantajoso, em razão dos juros que acarretarão sobre a dívida total.
— As pessoas não se dão conta do custo de jogar esta dívida para frente, pois o custo das parcelas são diluídas no restante do contrato. Dependendo do prazo e do juro embutido, o valor final desta parcela pode até dobrar — alerta Jó.
Alerta para adiamento de prestações de imóveis
Alguns dos mais intensos movimentos dos bancos neste contexto estão no crédito imobiliário. A Caixa, responsável por sete em cada dez contratos imobiliários no país, oferece a mutuários com contratos habitacionais adimplentes ou com até dois encargos em atraso a possibilidade de pausa no pagamento de até três prestações.
De acordo com o banco, "a possibilidade de pedido de pausa no pagamento visa apoiar aqueles clientes que enfrentam dificuldade para manter os pagamentos mensais em decorrência da crise pandêmica." A Caixa informa ainda, por nota enviada à reportagem, que o valor não pago será incorporado ao saldo devedor e diluído no prazo remanescente, de acordo com as condições do contrato original, sem alteração da taxa de juros.
Outros bancos, privados e públicos, seguiram o movimento da Caixa e também passaram a oferecer aos clientes o congelamento das parcelas, em geral por 60 dias. O Banrisul, por exemplo, informa que tem recebido solicitações de prorrogação das dívidas para as parcelas que vencem em maio e junho. Nesses casos, as prestações serão incorporadas ao saldo devedor.
— Estas oportunidades dão fôlego ao consumidor e podem reduzir a inadimplência dos contratos temporariamente — reconhece Anderson Machado, diretor da Associação dos Mutuários e Moradores das Regiões Sul e Sudeste do Brasil (AMMRS).
— No entanto, o cliente precisará estar ciente que a pausa é temporária e será preciso se organizar financeiramente para voltar a quitar as parcelas após os dois ou três meses de congelamento, sob o risco de perder o imóvel — alerta.