SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Júnior, afirmou que as novas operações de crédito feitas durante o coronavírus -com exceção das linhas emergenciais que foram criadas especificamente para o momento- devem ter juros e spreads (diferença entre a taxa de captação e os juros pelos quais o banco empresta) maiores, impulsionados pelo cenário de pandemia.
Segundo Lazari, ainda que os juros das operações renegociadas pelos clientes e das linhas alternativas emergenciais criadas em conjunto com o setor público não sofram alterações, a demanda por recursos novos vai passar por um crivo maior por parte do banco e tende a ter taxas pressionadas pelo maior risco que o ambiente apresenta.
"Ainda não temos certeza do que vai acontecer pela frente, nem de quando isso vai terminar ou como vai ser o futuro, e a demanda de recursos novos passará por um crivo acentuado e pode ter juros e spreads um pouco maiores. É o mercado que vai regular isso ao longo do tempo pela disputa natural que temos no setor", disse o presidente do banco em conferência com jornalistas nesta quinta-feira (30).
"Além disso, temos mapeado alguns setores que vão sofrer mais e, principalmente nesse cenário, as empresas também terão que ter consciência maior do quanto podem se alavancar", completou Lazari.
O executivo também afirmou que vai fechar mais agências do que o previsto para este ano, devido ao novo cenário trazido pelo coronavírus.
No ano passado, o banco já havia divulgado que pretendia fechar 300 agências em 2020. Este número, segundo Lazari, passou a ser em torno de 330.
"Temos que ser conscientes de que o modo de trabalhar e a maneira das pessoas se relacionarem com o banco devem mudar. À luz disso, teremos mais funcionários em home office e menos clientes passando por agências físicas. Isso vai fazer parte da reprogramação de agências e é uma nova forma de pensar que vamos desenvolver, seja para mudar ou para fechar estruturas físicas", disse.
O resultado do banco divulgado nesta quinta-feira aponta para uma queda de 40% no lucro do primeiro trimestre de 2020 em relação a igual período de 2019, para R$ 3,8 bilhões. O montante é reflexo de um aumento de 86% nas reservas voltadas para cobrir possíveis calotes, que subiu para R$ 6,7 bilhões.
A carteira de crédito do Bradesco teve um crescimento de 17% no período, para R$ 655,1 bilhões. Na divisão por segmentos, a maior alta foi na carteira de pessoas físicas, que subiu 19,5% no período, para R$ 239,2 bilhões.
O crédito para pequenas e médias empresas apresentou aumento de 17,8%, para R$ 119,1 bilhões, e o crédito às grandes empresas teve alta de 14,8%, para R$ 296,7 bilhões.
Segundo Lazari, apesar de o volume de recursos cedidos às companhias de grande porte ter aumentado -principalmente devido a uma busca desenfreada por crédito por parte dessas empresas no início da crise, como forma de estruturar caixa- a tendência é que esse segmento se estabilize.
"Também devemos lembrar que todas as operações previstas para o mercado de capitais convergiram para o mercado bancário. Ainda assim, nesse cenário, devemos ver uma estagnação nos volumes cedidos às grandes empresas e um crescimento menor nas concessões às pessoas físicas, muito pelo cenário que temos pela frente", disse Lazari.