O corte da Caixa Econômica Federal no juro do cheque especial - modalidade acionada quando se entra no limite da conta - acendeu o alerta para a volúpia do custo deste tipo de operação no Brasil. Ainda que o banco tenha anunciado redução de 50% a partir de 1º de dezembro - de 9,99% para 4,99% ao mês -, a modalidade continua mais cara do que outras opções de crédito para pessoa física, como empréstimo pessoal ou consignado.
Em outros bancos, a situação é ainda mais crítica. Conforme o Banco Central do Brasil, o juro médio varia de 11,94% a 14,74% ao mês nas principais instituições do país. Nos cálculos da consultora financeira Camila Bavaresco, taxas assim geram o efeito bola de neve e podem levar o consumidor a perder o controle de seus gastos. Se alguém usa R$ 1 mil do cheque especial e deixa para pagar um ano depois, a dívida terá saltado para R$ 5.206,89.
— Isso mostra como o cheque especial pode ser nocivo para o orçamento, mesmo que seja usado só de vez em quando — alerta Camila.
Os próprios bancos sugerem que o limite deve ser usado como saída de emergência para momentos de aperto, e não uma linha de empréstimo convencional. Isso porque a contratação é automática, sem burocracia, e o valor é ressarcido tão logo a conta do cliente receba novo crédito.
Em posicionamento enviado à reportagem, o Banco do Brasil reforça que a linha tem caráter emergencial. O Santander orienta os clientes para que a utilização seja apenas em emergências e por pouco tempo.
Nenhum dos bancos confirmou planos para reduzir suas taxas no curto prazo - além de ambos citados acima, a reportagem procurou Itaú, Banrisul (que diz já ter cortado este juro) e Bradesco, que foi o único a não se pronunciar.
Por isso, é importante evitar a armadilha do cheque especial. Consultores financeiros sugerem que o consumidor busque um empréstimo mais barato quando estiver próximo de atingir o limite da conta. Outra estratégia é manter uma reserva de emergência em aplicações de fácil acesso, como CDBs e poupança, para evitar, no desespero, usar o limite.
— Quem faz aplicações como um CDB, por exemplo, tem de onde tirar dinheiro quando há contas extras, como impostos de início de ano e rematrícula, que podem levar a pessoa a entrar no cheque especial — explica o gerente de produtos financeiros do Banco RCI Brasil, Renato Negrão.
Dicas
Fuja do juro mais alto
- O juro cobrado quando entra-se no limite da conta, chamado cheque especial, é um dos mais caros do sistema financeiro brasileiro, comparado ao rotativo do cartão de crédito.
- No Brasil, a taxa média é de 11,56% ao mês, conforme a pesquisa mensal da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) - bem acima do empréstimo pessoal (3,54% ao mês) ou do crédito consignado (em torno de 1,7% mensal), por exemplo.
- Alguns bancos oferecem carência no uso do limite, sem cobrar taxas nos primeiros dias. Nesses casos, podem ser opções para momento de aperto financeiro. O Santander, por exemplo, informa que há carência nos primeiros 10 dias.
- Também há modalidades de contas com juros mais baixos para clientes com bom relacionamento e perfil de bom pagador. Neste caso, é preciso pesquisar e se informar sobre as condições. O Itaú, por exemplo, afirma que cobra juro mínimo de 2,6% ao mês, o Banrisul, de 2,5%, e o Banco do Brasil, de 1,85%.
- Em geral, entretanto, as taxas são salgadas e é preferível recorrer a um empréstimo pessoal diretamente no banco do que cair no limite da conta.
- Caso seja inevitável entrar no limite, este deve ser encarado como uma modalidade de empréstimo de curtíssimo prazo, para ser pago imediatamente. Deixar a dívida crescer pode multiplicá-la em demasia (veja simulação abaixo).
- Para evitar que um aperto financeiro o leve a ter de recorrer ao limite de conta, tenha sempre uma reserva de emergência equivalente a pelo menos duas vezes seu salário mensal.