Quem está com as contas no aperto pode antecipar o recebimento do 13º salário, da restituição do Imposto de Renda (se ainda não tiver sido contemplado em um dos três lotes já anunciados) e, em breve, até de parte do valor do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O empréstimo usando esses recursos como garantia pode ser boa opção para se livrar de uma dívida cara, como a do cartão de crédito, ou sair do cheque especial. Por outro lado, as antecipações acarretam juros sobre um dinheiro que se teria direito a receber integralmente no futuro.
— É o custo que se tem ao antecipar um benefício — explica Marcus Muller, CEO do site de educação financeira Academy Blocks.
Quem antecipa o 13º precisa estar ciente de que, em novembro e dezembro, quando as empresas costumam pagá-lo aos funcionários, não haverá esse reforço na conta. Isso pode ser arriscado no período de gastos extras como as antecipações do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Além disso, quem antecipa fica sem o dinheiro extra para as férias, a rematrícula escolar ou as compras de Natal.
A vantagem dessa opção é se livrar de contas que sobem mais rapidamente do que o juro do empréstimo com garantia. A taxa cobrada de quem parcela a fatura do cartão pode chegar a quase 300% ao ano, e, do cheque especial, pode passar de 320%. Portanto, quem antecipa o 13º pagando juro em torno de 36% ao ano, que é a faixa cobrada por alguns bancos de varejo, consegue eliminar dívidas que crescem feito bola de neve.
— Essa antecipação é boa para sair da inadimplência ou eliminar esse risco quando se tem dívidas altas — comenta o educador financeiro Reinaldo Domingos, do canal do YouTube Dinheiro à Vista.
Para a antecipação da restituição do Imposto de Renda (IR), a regra é semelhante. Para quem não quer (ou não pode) esperar, o dinheiro pode ser antecipado junto ao banco, com juros que variam de 2% a 4% ao mês (correm pelo número de meses até que haja a liberação da restituição).
— A pessoa precisa estar ciente dos riscos ao antecipar a restituição, pois, se cair na malha fina, não receberá o dinheiro e ainda terá descontado o valor do empréstimo — alerta Domingos.
A Caixa Econômica Federal (CEF) anunciou na semana passada que, dentro das modalidades criadas para o saque do FGTS, quem optar pelo saque-aniversário (que recebe uma parte do saldo no seu mês de nascimento) poderá usar o recurso como garantia para empréstimos pessoais. Isso possibilitaria a antecipação do acesso ao valor. No entanto, a confirmação dessa possibilidade ainda precisará ser regulamentada pelo Conselho Curador do FGTS.
— Muitas vezes esse dinheiro é uma reserva de emergência, e quem solicitar antes pode se desguarnecer para os imprevistos. A antecipação do FGTS terá de ser avaliada com muito cuidado — diz Müller.
As regras para cada tipo de antecipação
- 13º salário: é uma saída rápida para quem quer pegar um dinheiro extra para eliminar dívidas ou se livrar de uma conta com juro alto. O banco deposita uma fatia do 13º (que costuma ser de 80% do total) e cobra juros de 2% a 4% ao mês.
- Restituição do IR: o contribuinte pode pedir ao banco a antecipação. Em geral, as instituições financeiras pagam de 75% a 90% do valor restituído, além de juros que costumam variar de 2% a 4% ao mês.
- FGTS: quem optar pelo saque-aniversário para acessar o dinheiro do FGTS poderá usar os recursos como garantia para empréstimos. As regras desta modalidade ainda precisam ser estabelecidas.
Fontes: Caixa, Banrisul e Banco do Brasil
O que levar em conta na antecipação
- Esteja ciente de que será necessário pagar juros para ter um dinheiro que é seu por direito.
- Em alguns casos, a antecipação também pode ajudar a pagar algo à vista, recebendo um desconto.
- Esteja atento ao percentual liberado pelos bancos para a antecipação, que geralmente flutua de 75% a 90% do total.
- Há riscos: se você for demitido e tiver dado o 13º como garantia, terá de pagar de volta, com juros. O mesmo vale para o IR, para quem cair na malha fina.
- Evite usar o dinheiro para gastos pontuais e dispensáveis, como compras ou viagens de lazer.
Fontes: educadores financeiros Reinaldo Domingos e Marcus Muller