Tornar-se inadimplente é um movimento lento, mas pantanoso: uma parcela atrasada se soma à outra até que você perde a liberdade financeira. Hoje, 40% da população adulta do Brasil está com a parcela de alguma dívida atrasada, segundo estudo divulgado em junho pela Serasa Experian. A pesquisa de endividamento e inadimplência das famílias brasileiras feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que 23,6% dos grupos familiares tinham alguma conta ou parcela atrasada em junho.
O superendividamento – quando as dívidas ultrapassam a possibilidade do orçamento do devedor – pode decorrer da falta de organização com o salário e do uso desenfreado do cartão de crédito e do cheque especial. Mas existem estratégias para pagar as dívidas e reconquistar a paz.
– Em geral, as pessoas querem negociar dívida sem saber o real poder de fogo. Veja o quanto você ganha, o quanto você gasta e o quanto você deve. Após cortar os gastos que não são necessidade imediata, pague as dívidas que podem trazer perda do carro ou da casa. Em seguida, foque nas dívidas com juro elevado, como cartão de crédito e cheque especial. Por último, as dívidas informais.
E aí tem que dar a cara a bater: devo, não nego, pago quando puder – aconselha Leandro Rodrigues, da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).
Como escapar da inadimplência
Corte gastos
Se você está superendividado, precisará cortar os custos não essenciais. Revise gastos fixos, faça cortes e a economia se torna automática. TV a cabo, plano de dados do celular, serviços de streaming e academia devem ser repensados.
Pegue o melhor crédito
Em situações de superendividamento, busque um empréstimo com taxa de juro menor do que a taxa que você paga hoje. Em geral, cartão de crédito e cheque especial têm os juros mais altos. Se você pedir empréstimo com uma taxa mais baixa, a dívida irá crescer a uma velocidade menor. Existem sites que ajudam a comparar os empréstimos para encontrar aquele com juro mais baixo, como o eCred, do Serasa Experian. Para mais informações acesse o siteserasaconsumidor.com.br/ecred/.
Negocie as dívidas
Depois de analisar quanto você deve e quanto tem de dinheiro para pagar mensalmente, procure negociar com as empresas credoras, como loja, escola dos filhos, administradora do condomínio e banco, por exemplo. Quem tem dívidas atrasadas de crédito consignado, cartão de crédito, cartão de material de construção, crédito rotativo e microcrédito pode recorrer ainda ao feirão de negociação com a Caixa, que ocorre até 28 de agosto (bit.ly/renegociacaocaixagzh) e permite obter desconto de até 90% na dívida se você quitar à vista. Veja o site da campanha em bit.ly/renegociardividascaixa.
Conciliação pelo TJ
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) oferece um serviço de graça para quem está superendividado – isto é, quem acumulou tantas dívidas que não consegue sair do vermelho sozinho em tempo razoável. O interessado preenche um formulário e o TJ irá articular uma audiência de conciliação entre a pessoa e a empresa para a qual deve.
A ideia do encontro é renegociar as dívidas. Não é preciso advogado. A assistência gratuita está disponível em Porto Alegre (Foro Central e Defensoria Pública), São Leopoldo (Foro e Unisinos), Canoas (Foro e UniRitter) e nos Foros das cidades de Charqueadas, Sapiranga, Santa Maria e Santa Cruz do Sul. Não é preciso morar na cidade para ser atendido.
Assessoria financeira gratuita
Com um programa de computador, a Equilíbrio Assessoria Econômica, formada por estudantes de economia da UFRGS, calcula se o juro cobrado pelo credor é abusivo. O serviço analisa empréstimos pessoais totais e consignados e financiamentos de veículos ou imóveis. Em seguida, o inadimplente é encaminhado à Defensoria Pública para ajuda jurídica. O serviço é grátis. Disponibilizado no site equilibrioufrgs.com/recalculo, o atendimento presencial é nas quintas-feiras, das 13h30min às 17h30min. Endereço: Avenida João Pessoa, 52, sala 39A.
Antecipe rendimentos
Peça para o seu chefe antecipar um recebimento que não cobre juros, como 13º salário ou férias.
Cadastro positivo
Quem tem dívidas cai em um cadastro negativo, acessado por empresas de todo o país. Desde 9 de julho, os bons pagadores também passam a ser incluídos automaticamente em uma espécie de lista, o cadastro positivo. Os bancos usam como justificativa para praticarem taxa de juro tão altas no Brasil o argumento de que um grande número de brasileiros não paga suas dívidas. Com o cadastro positivo, tem-se a expectativa de que os devedores que não atrasam pagamentos possam pagar juro menor ao parcelar compras. Outro resultado esperado é a cobrança de juro reduzido de quem apenas atrasou uma parcela, mas sempre honrou seus pagamentos no passado.