Autor do best-seller Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, o consultor financeiro Gustavo Cerbasi tem a solução para quem quer organizar as finanças: prezar pelo minimalismo. Com mais de 20 anos de experiência na área de finanças pessoas, ele é um crítico contumaz da sociedade que apregoa o consumo como caminho para a felicidade. Em seu mais recente livro, A Riqueza da Vida Simples, ele defende que quem compra menos não só economiza, mas se torna mais feliz por se libertar das pressões sociais. Confira a entrevista a GaúchaZH:
Muita gente que acha que lida bem com as finanças está enganada. Quais são os sinais de que a pessoa precisa prestar mais atenção nisso?
Primeiro ponto é que estar com as contas em dia não é sinal de saúde financeira. Ela existe quando realizo meus objetivos e sonhos na vida em um processo prazeroso. Muita gente não tem noção do horizonte mais longo da vida. No processo de planejamento que proponho a meus alunos e em livros, a ideia é que planejar a vida não é olhar apenas se a renda cobre os gastos, mas também discutir em família os planos a serem conquistados a curto, médio e longo prazo. O curto, por exemplo, é trocar de carro. O médio pode ser a faculdade dos filhos e o longo, a aposentadoria. Para isso, devo retirar da minha renda o que preciso para conquistar esses planos. A maioria das pessoas em suposto equilíbrio financeiro fecha o fim do mês com algum nível de poupança, mas não projeta nenhum sonho.
O brasileiro tem um alto índice de inadimplência. Na sua opinião, quais são as principais razões?
Quem se declara inadimplente diz que não tinha reserva de emergência para lidar com imprevistos, que exagerou nas compras a prazo ou que não se sentiu à vontade de dizer "não" diante do esforço insistente de um vendedor. Se ocorreu um imprevisto e você fez uma compra a prazo, perdeu espaço no orçamento para os pagamentos e aí acaba em dívida. Quem tem estilo de vida simples lida melhor com imprevisto a curto prazo do que quem tem custo de vida mais alto. Quanto mais flexível meu orçamento, menos reserva de emergência preciso.
Qualquer item de grande valor comprado, como casa ou carro, cria um efeito cascata. Uma casa mais cara está em bairro mais elitizado, então o supermercado será mais caro, a escola será mais cara, o IPTU será mais caro..
GUSTAVO CERBASI
Quem está superendividado deve fazer o quê, em primeiro lugar?
Parar tudo e recomeçar. Não é só negociar dívida, é montar uma estratégia que envolve cortar gastos, rever orçamento e mudar a moradia. Segundo ponto é vender o que não preciso ou que preciso pouco e que pode ser comprado depois. Depois, aumentar a renda, como horas-extra de trabalho ou ajudando alguém no fim de semana. Osso demonstra aos credores que estou reunindo esforços para vencer o superendividamento. Normalmente, assim os bancos negociam, porque veem que a pessoa tem um plano e que está comprometida. Muita gente cai no superendividamento por causa do desemprego. Mas uma boa postura pode trazer mudanças, e para isso é preciso dividir a agenda diária em três partes. Um terço é buscando emprego. O segundo terço é fazendo algum bico, como dirigindo carro em aplicativo para colocar comida na mesa. O último terço do tempo deve ser aplicado em estudos, para aprender um conhecimento novo e, assim, buscar empregos para os quais ela não está qualificada hoje.
Onde as pessoas costumam gastar mais? Qual o maior erro?
No superdimensionamento da moradia. Para maioria das pessoas, a analise é: ganho X, a casa custa isso, vou aceitar essa casa. Mas qualquer item de grande valor comprado, como casa ou carro, cria um efeito cascata. Uma casa mais cara está em bairro mais elitizado, então o supermercado será mais caro, a escola será mais cara, o IPTU será mais caro, o consumo de energia será mais cara porque a casa será maior... Ao simplificar gastos, gero uma disponibilidade de verba que compensa a sensação de ter uma casa mais confortável. Sobra, portanto, dinheiro para ir ao cinema, viajar, e sair com os amigos.
O melhor é cortar gastos fixos do que variáveis, então?
Ter mais gastos variáveis do que fixos é estratégico. Assim, gasto mais em lazer e em cursos avulsos e prazerosos _ em geral, pagos à vista, o que ajusta meu orçamento a imprevistos. Eu convido as pessoas a se proporem ao desconforto de mudar radicalmente o estilo de vida. Se você tira as alegrias diárias, cria uma rotina de pagar contas e fazer poupança. Só que não há motivação sem celebração.
A vontade de comprar algo sempre será mais forte para quem está menos feliz. Quem está feliz com a carreira, com o relacionamento e as experiências da vida sentirá menos necessidade de compensar experiências.
GUSTAVO CERBASI
Em A Riqueza da Vida Simples, você fala de escolhas inteligentes que ajudam as pessoas a conquistar os sonhos que dependem de dinheiro. Que escolhas inteligentes são essas?
Uma atitude minimalista de conversar consigo mesmo e as pessoas queridas para priorizar o consumo do que é importante e abrir mão do que é secundário. Em outras palavras, ter abundância naquilo que é importante e fechar os olhos para o comportamento consumista que diz para termos determinas roupas ou a casa em determinado lugar. As pessoas correm por um consumismo não saudável quando o melhor é ter conexões mais saudáveis.
Como vencer o desejo imediato de comprar algo que forneça uma sensação de conforto?
A vontade de comprar algo sempre será mais forte para quem está menos feliz. Quem está feliz com a carreira, com o relacionamento e as experiências da vida sentirá menos necessidade de compensar experiências. Isso tem a ver com uma carência. Dizer "não" envolve sentar com a pessoa que amo para ver quais sonhos os dois irão realizar. É um cruzeiro no fim de ano? Precisa guardar R$ 300 por mês? Se sim, tenho que saber que, se for para o shopping gastar esse dinheiro, vou inviabilizar o sonho de fim de ano.